Título: Assembléia está na quarta legislatura investigada
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2006, Nacional, p. A11

Nos últimos 15 anos, em média um deputado federal dos ex-territórios da fronteira Norte do País - Rondônia, Roraima, Acre e Amapá - é cassado a cada ano por crime eleitoral ou falta de decoro parlamentar. Dezenas de outros processos judiciais mais sérios, no entanto, continuam sendo bloqueados pela rede de proteção formada pelos chefes dos Poderes.

Os grupos políticos que controlam os ex-territórios transformaram a região em uma espécie de terra sem lei, no estilo do Velho Oeste. O exemplo mais gritante é dado por Rondônia, epicentro de um grande escândalo de corrupção, descoberto pela Polícia Federal, que envolve os principais chefes e líderes dos Poderes locais.

Todos os quatro ex-presidentes da Assembléia de Rondônia são processados por desvio de recursos públicos. A sensação de impunidade é grande. Um deles, o ex-deputado Natanael José da Silva, que comandou a Casa entre 2001 e 2003, é acusado de apagar as luzes e colocar fogo na Assembléia para evitar que promotores de Justiça recolhessem provas contra ele, em julho de 2001.

Os promotores haviam descoberto que, em fevereiro daquele ano, Natanael assinou um cheque de R$ 601 mil pretensamente destinado ao pagamento de salários de funcionários da Assembléia. A suspeita surgiu porque os servidores não são pagos por cheque, mas por crédito em conta.

Ao rastrear o cheque, constatou-se que ele saiu do banco numa sexta-feira à tarde, foi repassado a uma empresa transportadora de valores e entregue em malote no dia seguinte numa revendedora de cerveja de propriedade do deputado. Natanael responde hoje a oito processos no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Ele tem direito a foro privilegiado porque, ao perder o mandato na eleição de 2002, conseguiu que seus fiéis escudeiros da Assembléia o indicassem para uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas, do qual está afastado. Seu sucessor foi o deputado Carlão de Oliveira, preso na Operação Dominó.

As histórias dos dois são recheadas de episódios pitorescos. No início de 2003, para impedir que o governador eleito, Ivo Cassol, influenciasse a escolha do presidente da Assembléia, eles mobilizaram outros 12 colegas para uma viagem ao Pantanal às vésperas da eleição.

O grupo foi apelidado de Big Brother Natanael porque foi mantido confinado por vários dias, sem contato até com os familiares, para evitar assédio dos adversários.

Foi justamente o controle da Assembléia que permitiu que a quadrilha passasse a chantagear o governador em troca da aprovação dos projetos de seu interesse.