Título: Alckmin perde terreno até mesmo em S. Paulo
Autor: Roberto Gazzi, Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H18

Um dia, os estrategistas da campanha do tucano Geraldo Alckmin terão de explicar como, após 28 dias de campanha do segundo turno, o candidato - que terminou a campanha de primeiro turno em ascensão - saiu das urnas menor do que quando entrou nele. O mapa da votação no Brasil mostra que Alckmin, não só deixou de agregar votos dos outros candidatos no segundo turno, como perdeu parte dos seus próprios votos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele teve 2,43 milhões de votos a menos que no primeiro turno - perdeu cerca de 87 mil votos por dia. Já Lula engordou em 11,6 milhões a sua votação - ganhou 414 mil votos por dia.

Alckmin ganhou no Estado de São Paulo e em mais outros seis Estados, quatro a menos que no primeiro turno, contando o Distrito Federal. A diferença de votos entre ele e Lula diminuiu muito nas regiões em que tinha obtido vantagem. O único Estado em que o tucano cresceu foi Roraima: lá ele teve 59,73% no primeiro turno e agora alcançou 61,48%. Mas o aumento no porcentual de votos não ajudou muito porque Roraima é o menor colégio eleitoral entre os Estados brasileiros. O presidente ampliou sua votação em todos os Estados em que ganhou no primeiro turno, e ainda conseguiu virar a preferência do eleitorado em três deles: Goiás, Rondônia e Acre, além do DF.

No Estado de São Paulo, Alckmin teve menos votos que no primeiro turno (54,2% antes e 52,26% agora). Lula, que havia obtido 36,77%, melhorou em 11 pontos a sua performance, chegando a 47,74%. O fenômeno ocorreu também em todos os Estados do Sul. No Paraná, o tucano recuou de 53,01% para 50,75%, quase empatando com Lula. Nos Estados em que Lula já obtivera ampla vantagem no dia 1º, a diferença foi ainda maior ontem. No Amazonas, Estado em que Lula foi o campeão de votos do primeiro turno, com 78,06%, sua vantagem agora foi estrondosa: nada menos que 86,8% dos votos, ante apenas 13,2% do adversário.

No Maranhão, um dos Estados em que Lula havia sido campeão de votos, com 75,5%, deu agora 84,66% ao presidente reeleito. Mas o petista não conseguiu transferir seus votos para a candidata Roseana Sarney (PFL), que apoiou no segundo turno, inclusive contra a vontade do PT local. Na derrota para Jackson Lago (PDT), Roseana teve 36 pontos porcentuais a menos que Lula no Estado.

Até em sua cidade natal, Pindamonhangaba (SP), Alckmin viu o seu eleitorado encolher, na comparação com o primeiro turno. Na primeira votação, o tucano teve 48.552 votos (64,98%), que se reduziram agora para 45.431 (60,15%). Em menos de 30 dias, Alckmin perdeu, na cidade, 3.121 votos. O aumento no número de abstenções (de 13.396 para 14.054) não cobre a diferença, o que indica que eleitores do ex-governador, em sua própria cidade, mudaram de lado nesses 28 dias, seja anulando o voto ou votando em branco, seja optando por Lula.

O crescimento do presidente Lula no reduto do adversário foi de 8.676 votos. O presidente reeleito passou de 21.423 votos no primeiro turno (28,67% dos válidos) para 30.099 (39,85% dos válidos).