Título: Yeda põe PSDB pela 1ª vez no governo gaúcho
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/10/2006, Nacional, p. H22

A missão de tirar o Rio Grande do Sul de sua crise econômica foi confiada a Yeda Crusius, candidata que liderou uma aliança de 11 partidos (PSDB-PFL-PPS-PL-PSC-PAN-PRTB-PHS-PTC-Prona-PT do B) ampliada com a adesão de mais três siglas (PP, PTB e PMDB) no segundo turno. O resultado da eleição entrega o comando do Estado ao PSDB e a uma mulher pela primeira vez na história. Yeda obteve a preferência de 53,94% dos gaúchos. Olívio Dutra, da Frente Popular (PT-PC do B), ficou com 46,06%.

Em meio à festa da vitória, na sede do PSDB, Yeda reafirmou o compromisso de colocar em dia as finanças do Estado, que enfrenta um déficit estrutural de R$ 1,5 bilhão ao ano. E deu a entender que vai pedir a solidariedade do atual governo, do Judiciário e do Legislativo para as medidas duras que pretende tomar. ¿Já na transição, nenhuma instituição deixará de ser chamada a contribuir¿, anunciou, prometendo, no primeiro dia de governo, expor o orçamento à população para justificar as medidas de contenção de despesas, renegociação de dívidas e ampliação de receita que pretende tomar.

Yeda iniciará sua gestão com grande apoio parlamentar. Pela composição da aliança que a levou a vitória, terá 36 dos 55 deputados dispostos a votar com o governo. Mas também terá que acomodar todas as siglas no seu governo. Para não gerar especulações imediatas, disse que só vai anunciar o secretariado em dezembro e ressaltou que o critério de escolha deverá ser a capacidade técnica.

A tucana também espera uma renegociação da dívida com a União e boa vontade do presidente Lula com as demandas do Rio Grande do Sul. ¿Não se aceita que um presidente trate Estados federados de maneira diferente¿, advertiu Yeda, para dizer que tem certeza que, passado o embate eleitoral, ¿o presidente vai querer trabalhar a favor do Brasil e se fizer isso vai trabalhar a favor do Rio Grande do Sul¿.

O candidato do PT, Olívio Dutra, reconheceu a derrota logo que a contagem de votos indicou que ele não teria mais como ultrapassar a adversária. Às 19h30 ele cumprimentou Yeda publicamente e anunciou que, na oposição, respeitará a legitimidade da governadora eleita. A tucana retribuiu saudando Olívio e dizendo que a postura do petista, durante a campanha, permitiu que cada lado expressasse sua posição com firmeza, mas com respeito.

PLANEJAMENTO

Economista de reconhecida carreira acadêmica, a paulistana Yeda Crusius, 62 anos, filiou-se ao PSDB em 1990 e foi ministra do Planejamento por três meses durante o governo Itamar Franco, em 1993. É deputada federal desde 1994, com duas reeleições, em 1998 e 2002. Apesar dos bons resultados nas eleições legislativas, havia acumulado duas derrotas ao concorrer para a prefeitura de Porto Alegre, em 1996 e 2000.

Para se tornar governadora do Rio Grande do Sul, Yeda teve de convencer os tucanos gaúchos que o partido poderia deixar de ceder vice-governadores - como em 1990, 1994 e 2002 - e de ter papéis secundários no Executivo para assumir um papel de protagonista, liderando uma frente de diversas siglas.

O projeto da candidata foi apoiado desde o início pelo PFL. O deputado federal Onyx Lorenzoni conta que líderes dos dois partidos chegaram a desconfiar do potencial da candidatura no primeiro semestre, quando estudavam ceder à proposta do PMDB gaúcho, que exigia a desistência de Yeda para dar palanque a Alckmin no Estado.

Yeda e Lorenzoni insistiram na formação de uma coligação ampla, apostando, inclusive, no tempo que teriam na propaganda da televisão.

Não conseguiram atrair o PP para a frente partidária, mas, na última hora, conquistaram o PPS, que já havia formado uma coligação com outros oito partidos, e disputaram o primeiro turno com seis minutos da televisão, o dobro do que tinham o PT e o PMDB. Sabendo que o PT tem um eleitorado fiel, próximo de 25% do total, a campanha de Yeda tratou de buscar votos entre os eleitores que optaram por Germano Rigotto (PMDB) em 2002 mas que estavam dispostos a mudar de candidato diante do desgaste do governador, que sofreu com os problemas econômicos vividos pelo Estado nos últimos anos, como duas estiagens devastadoras e o câmbio que colocou em crise setores importantes como o coureiro-calçadista e o moveleiro.

O discurso de que era necessário dar uma chance a alguém que ainda não tinha governado o Estado para ajustar as finanças e recuperar a capacidade de investimento deu certo na reta final do primeiro turno.

Na última semana da campanha, Yeda saltou do terceiro lugar para a cabeça. Quando os votos foram contados, estava em primeiro lugar, com 32,9% dos votos e Rigotto, que havia passado todo o primeiro turno como favorito, estava fora, com 27,1% dos votos, superado também por Olívio, com 27,3% dos votos. No segundo turno Yeda conquistou com facilidade a adesão do PMDB e do PP, enquanto Olívio só agregou o pequeno PSB. A tucana largou como favorita, com vantagens de mais de 30 pontos porcentuais nas pesquisas.

A diferença caiu para menos de 10 pontos porcentuais durante a campanha, mas não provocou sustos na contagem de votos. A vantagem apontada pelas pesquisas apareceu logo na apuração das primeiras urnas e se manteve. Em nenhum momento a votação de Olívio aproximou-se da de Yeda.

PRIVATIZAÇÃO

No dia da vitória Yeda começou visitando o comitê eleitoral do PSDB, no bairro São Geraldo, onde era esperada por cerca de 150 pessoas, entre as quais os senadores Pedro Simon (PMDB) e Sérgio Zambiasi (PTB) e o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS). Em rápida entrevista, defendeu as privatizações feitas por governos que apoiava na década passada como mudanças necessárias a um País incapaz de financiar seu desenvolvimento sozinho. ¿Quem quer discutir essa pauta ultrapassada demonstra que não tem projeto para o futuro¿, disse, referindo-se ao tema preferido de seus adversários durante a campanha.

Logo depois, Yeda deslocou-se para o bairro Petrópolis, onde mora, e foi votar na Escola Professor Leopoldo Tietbohl, levando o neto Vinícius pela mão. Esperou cerca de dez minutos na fila para que as seis pessoas que estavam à sua frente votassem. Ao sair, deixou uma mensagem aos alunos no mural. ¿Estudem, respeitem a escola e os professores. E vivam felizes.¿

Pouco antes do encerramento da eleição, Yeda retirou-se para um breve repouso em casa, onde acompanhou a apuração. Quando a vitória estava consolidada, Yeda foi de novo ao comitê eleitoral para festejar.

A futura governadora do Rio Grande do Sul deve começar a tratar da transição na semana que vem, depois de um período de descanso e isolamento em alguma praia do Nordeste.