Título: Lula quer BB e Caixa no 'choque de crédito'
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2006, Economia, p. B3

O governo quer estimular a concorrência entre os bancos, como forma de forçá-los a reduzir a taxa de juros em suas operações de empréstimo. Essa é uma das formas pelas quais pretende atingir um objetivo mais amplo: facilitar e baratear o financiamento no País. Ou, como dizem integrantes da área econômica, promover um "choque de crédito" no Brasil. Nessa tentativa, cabem de empréstimos consignados para casa própria e microempresas a iniciativas mais antigas, como a criação de um "cadastro positivo" de clientes do sistema financeiro.

O "choque de crédito" tem duas linhas de atuação: aumentar a oferta de dinheiro a ser emprestado e reduzir o custo do financiamento, atacando principalmente o spread bancário. O spread é a diferença entre o que o banco paga ao tomar recursos no mercado e o que cobra quando concede um empréstimo. Essa diferença cobre custos de administração, taxa de risco (calote) e tributos e garante o ganho do banco.

As medidas em estudo atacam esses pontos. O consignado, por exemplo, reduz o risco do banco por isso é mais barato que as outras modalidades de crédito. O cadastro positivo também busca reduzir o risco. O aumento da competição atacaria a parcela correspondente ao ganho do banco. Unificar terminais de atendimento da Caixa e do Banco do Brasil, como sugeriu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, seria uma forma de reduzir custos.

Os técnicos vêm trabalhando nessa agenda desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas, recentemente, o tema ganhou maior atenção. Começando em julho, Lula promoveu três reuniões com os bancos oficiais federais para discutir formas de dar o choque de crédito no País.

A avaliação dos técnicos é que, se instituições de peso como Banco do Brasil e Caixa começarem a oferecer empréstimos mais fartos e baratos, com spreads mais baixos, os bancos privados serão forçados a seguir o mesmo caminho. Há, porém, um problema. Os bancos oficiais não podem colocar sua saúde financeira em risco. Por isso, todas as medidas estão sendo analisadas com muita cautela.

Uma proposta apresentada pelo Banco do Brasil é permitir que o cliente possa escolher o banco em que tomará o empréstimo consignado, optando pelo que cobre juros mais baixos. Como esse empréstimo é descontado na folha de pagamento, ele fica amarrado à instituição pela qual a pessoa recebe seu salário. Está em análise uma forma de romper essa regra, forçando os bancos a competir.

Na outra ponta, para aumentar a oferta de crédito, os bancos sugerem ao governo que reduza a parcela de recursos que as instituições financeiras têm de recolher ao Banco Central, o chamado compulsório.

Dessa forma, aumenta-se a quantidade de dinheiro "emprestável" na economia. O problema é que esse dinheiro extra pode também alimentar a inflação, por isso o tema é controverso no governo. Entre os mais ortodoxos, o compulsório é visto, ao lado da taxa de juros, como parte do arsenal de combate à inflação e não pode ser mexido para estimular o crédito.