Título: Acordo livrou ex-ministros de depor
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2006, Nacional, p. A7

Um acordo entre governo e oposição poupou os ex-ministros da Saúde do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de deporem na CPI dos Sanguessugas. Às vésperas das eleições, nem os partidos aliados ao Planalto nem os oposicionistas querem expor integrantes de suas legendas ao crivo da comissão de inquérito.

Dois ex-ministros são candidatos a governos estaduais: o petista Humberto Costa disputa o governo de Pernambuco e o tucano José Serra concorre ao governo de São Paulo.

Costa foi acusado por Darci Vedoin - dono da Planam, principal empresa do esquema - de envolvimento na fraude dos sanguessugas. Ele contou em depoimento que o lobista José Caubi Diniz teria confidenciado, na metade de 2003, que haveria um acordo com o então ministro "para serem liberados R$ 30 milhões" na aquisição de ambulâncias e equipamentos médico-hospitalares. Humberto Costa nega a acusação.

Saraiva Felipe foi citado por Luiz Antônio Vedoin, filho de Darci, como participante do esquema. A ex-servidora Maria da Penha Lino, braço da quadrilha no Ministério da Saúde e que foi admitida no ministério por Saraiva, também mencionou o ex-ministro em depoimento. Saraiva Felipe também nega envolvimento nas fraudes. Existe uma única referência a Serra no processo. Luiz Antônio Vedoin disse que preferia a vitória do tucano para a Presidência, em 2002.

"Convocar ex-ministros agora levaria inevitavelmente a uma partidarização dos trabalhos da comissão", disse o presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que sempre se posicionou contra os depoimento de ex-ministros da Saúde nesta primeira etapa de investigação da comissão.

O ex-ministro e deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG), que é candidato à reeleição na Câmara, também foi beneficiado e ficou na lista dos 18 parlamentares inocentados no relatório parcial da CPI dos Sanguessugas.

Com a aprovação, anteontem, do relatório do senador Amir Lando (PMDB-RO), a comissão de inquérito parte agora para uma segunda etapa das investigações. Os integrantes da comissão vão dedicar-se a investigar as relações da máfia dos sanguessugas com funcionários do Ministério da Saúde. "É preciso investigar esse esquema no Executivo desde a estruturação dessa máfia, em 1998, até hoje", defendeu o líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS).

As apurações da CPI também vão atingir os ministérios da Educação, das Comunicações e da Ciência e Tecnologia. Nessas pastas também teria ocorrido a apresentação de emendas orçamentárias por parlamentares para compra superfaturada de equipamentos.

O deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) ficou encarregado de comandar essas investigações.

Mas a um mês e meio das eleições de outubro, a CPI vai funcionar em marcha lenta. "Vai ser muito difícil conseguirmos quorum nos próximos dias", admitiu Biscaia. Existem 120 requerimentos, entre eles os que prevêem a convocação de ex-ministros, à espera de votação. A CPI deverá voltar a trabalhar a pleno vapor em meados de outubro. Instalada no dia 22 de junho, a comissão tem o prazo até 22 de dezembro para concluir suas apurações.