Título: Israel e Líbano aceitam cessar-fogo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2006, Internacional, p. A21

Israel e Líbano concordaram com os termos de um cessar-fogo estabelecidos numa resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovada por unanimidade na noite de ontem, na sede da organização, em Nova York. O texto foi elaborado pelos EUA e da França. Dada a importância da votação, estavam no CS a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, e os chanceleres da França, Philippe Douste-Blazy, e da Grã-Bretanha, Margaret Beckett.

Os dois elementos principais da resolução são o chamado para o "fim completo das hostilidades" (embora o texto não explicite um cessar-fogo imediato) e as medidas que cada lado terá de tomar para que a paz seja permanente e duradoura. Para isso, será enviada uma força multinacional de 15 mil homens ao sul do Líbano para apoiar o Exército libanês, que ocupará posições na região à medida que as tropas israelenses se retirarem. Esse deslocamento tem como meta afastar o grupo xiita Hezbollah de uma ampla área do sul libanês - sob seu controle há mais de 20 anos - para impedir que lance foguetes em Israel ou invada o país.

É a primeira ação concreta da diplomacia internacional para pôr fim a uma guerra que hoje completa um mês, com saldo de 1.041 libaneses e 124 israelenses mortos. O conflito começou quando o Hezbollah invadiu território israelense e capturou dois soldados.

Apesar do otimismo suscitado pelo avanço no campo diplomático, a situação na área de conflito se agravou com a decisão do primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, de dar o sinal verde para o Exército deslanchar ontem mesmo uma grande ofensiva terrestre no sul do Líbano - aprovada na quarta-feira. A meta é avançar até a altura do Rio Litani, a uns 30 quilômetros da fronteira.

"A lógica é que mesmo com esse bom resultado (a resolução), se for entregue ao Exército do Líbano um sul libanês do qual o Hezbollah tenha sido removido, isso tornará o trabalho (do Exército libanês) bem mais fácil", argumentou o porta-voz de Olmert, Mark Regev. A meta de Olmert é prosseguir com a campanha militar pelo menos até domingo, quando a resolução será submetida à aprovação do gabinete de governo.

Do lado libanês, o primeiro-ministro Fuad Siniora se reúne hoje com seu ministério para dar o aval à resolução. O Hezbollah é parte do governo libanês (no qual tem dois ministros). A expectativa é que o Hezbollah não oponha resistência, já que se supõe que Siniora não teria aceitado o acordo na ONU sem antes consultar representantes do grupo envolvido no confronto com Israel.

Apesar das objeções libanesas, Israel terá permissão para continuar com "operações defensivas" e a questão da área de Fazendas de Shebaa ficará para etapa posterior (o Líbano reivindica a área, que Israel ocupa). O texto também não menciona a libertação imediata dos libaneses presos em Israel.

Israel não teve acolhida a exigência de uma força multinacional separada da força da ONU estabelecida na fronteira desde 1978 (a Unifil). Ficou decidido que os soldados estrangeiros irão reforçar a Unifil. Além disso, o texto pede a libertação imediata dos dois soldados israelenses capturados pelo Hezbollah, mas não cita essa medida como passo essencial para o cessar-fogo.