Título: Oferta da Vale é a maior da AL
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2006, Economia, p. B4

O preço que a Vale se propõe a pagar pela Inco é o maior valor já ofertado por qualquer empresa latino-americana para adquirir outro ativo, diz Murilo Ferreira, diretor de Participações e Desenvolvimento de Negócios da mineradora. "É um valor histórico para toda a América Latina", diz ele, referindo-se à oferta de U$ 17,8 bilhões.

Comentando que está há dias sem dormir direito, trabalhando na elaboração da proposta, o executivo assegura que ainda não houve negociação alguma com acionistas ou administradores da Inco. Mas está bastante animado com o processo. "Havia dois interessados no negócio, até que surgiram os brasileiros da Vale. Estamos muito motivados", comentou.

Apesar de a Vale ter empresas controladas e coligadas nos Estados Unidos, Argentina, Chile, Peru, França, Noruega e Bahrain, a exploração e produção mineral do grupo estão concentrados no Brasil. Até o final de 2005, 98% da produção estavam em território nacional e os 2% restantes na Europa.

CRESCIMENTO Se a compra da Inco for concretizada, o negócio terá peso para mudar a distribuição geográfica da Vale. Segundo Ferreira, com a Inco, o grupo passaria a ter 60% no Brasil, 27% nos Estados Unidos, 5% na Ásia, 3% na Europa e 5% em outros países. "Estamos focados no nosso crescimento, mas a estratégia será orgânica", declara o diretor, dando a entender que será difícil o mercado ser surpreendido por um novo anúncio de aquisição de grande porte.

Além do mais, depois de um meganegócio como este, a Vale irá precisar de tempo para recuperar o fôlego financeiro. "A companhia é muito disciplinada em relação a capital. Nossa decisão é de investir, mas sem endividamento excessivo", diz Ferreira.

O perfil da produção de companhia também mudaria com a compra da Inco. Hoje, o minério de ferro, principal produto da Vale, representa 74% de sua receita. Em seguida, a uma distância considerável, vem o alumínio, com 11% e logística, com 9%. Com a Inco, o minério de ferro continua sendo o carro-chefe, mas sua participação cairia para 56%. Níquel seria o segundo produto, com 20%; alumínio teria 8% e logística, 7%.

Desde 2001, quando comprou a Caemi, a Vale não comprou outro ativo de minério de ferro. O plano da empresa é se consolidar como mineradora integrada, para depender cada vez menos de um produto só e competir em pé de igualdade com os grandes grupos multinacionais do setor. Assim, tem investido em bauxita, cobre, níquel e alumínio.