Título: Presidente do PT diz que Lula dará reajuste menor a servidor em 2007
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2006, Nacional, p. A4

Garcia admite que presidente terá de fazer cortes e lembra que funcionalismo já foi beneficiado em 2006

Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que não será preciso fazer cortes no Orçamento-Geral da União para que o País cresça, o coordenador de sua campanha e presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, afirmou ontem que eles ocorrerão. 'É evidente que nós vamos ter corte de gastos, mas será gradual' , frisou. Garcia não quis dar detalhes, mas apontou para a possível saída. Disse que nos anos anteriores os servidores públicos tiveram aumento de salário maior por causa das carreiras. Agora, os reajustes vão apenas recompor a inflação.

A declaração do coordenador da campanha petista encerra uma semana marcada pelo debate em torno de cortes orçamentários. Primeiro, foi o economista Yoshiaki Nakano, da equipe do tucano Geraldo Alckmin, que falou em uma economia de R$ 60 bilhões, sendo em seguida desautorizado pelo candidato.

A aposta é que o investimento feito agora no salário dos funcionários públicos permitirá que o governo passe algum tempo sem ter de repor perdas. 'Fizemos alguns reajustes importantes no que diz respeito aos salários, o que vai nos dar uma situação mais equilibrada no que diz respeito aos reajustes futuros', afirmou Garcia. 'Não precisaremos dar os pinotes que foram necessários para, entre outras coisas, atender à necessidade do nosso funcionalismo público, sobretudo para recuperar suas perdas durante os oito anos do governo deles (tucanos).'

Em junho, Lula assinou sete medidas provisórias com reajustes para os funcionários federais e do Distrito Federal, incluindo a reestruturação das carreiras de mais de 30 categorias - atingindo 1,7 milhão de servidores. No total, quando todos os aumentos estiverem em prática, a folha terá crescido em R$ 10 bilhões.

Conjugado com reajustes menores, o coordenador da campanha de Lula afirmou que no próximo mandato haverá cortes de gastos - apesar de a proposta de orçamento para 2007 ser ainda 9% maior do que a deste ano e contar que a economia brasileira vá crescer 4,75%, acima de todas as perspectivas do mercado.

No entanto, ele não soube ou não quis dizer onde serão feitos esses cortes, que não aparecem como parte da política econômica para o segundo mandato estabelecida no programa de governo de Lula. A receita, segundo ele, é ter a queda da taxa de juros, que se aceleraria no segundo mandato, conjugada com o crescimento econômico - que ele calcula em 5% ou mais -, o que elevaria a arrecadação.

BOLSA-FAMÍLIA

Garcia voltou a criticar as declarações de Nakano. 'Ele falou alto o que eles têm falado baixo', afirmou. 'O corte que Nakano propõe, de R$ 60 bilhões, equivale a três anos do Bolsa-Família.'

O coordenador voltou a repetir as acusações de que Alckmin vai privatizar estatais. Disse que há 'indícios' de que o tucano 'faria uma inflexão econômica que traria efeitos perniciosos'.

Garcia classificou de 'pergunta malandra' o questionamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre as privatizações. De Lisboa, FHC perguntou por que Lula não reestatizou a Vale do Rio Doce. 'Não é o caso de rediscutir a privatização. O mal está feito. O mal não é exclusivamente ter sido privatizada, está também na forma e nos resultados obscuros', disse Garcia. Para ele, a revisão teria impacto muito forte na economia.