Título: Collor faz visita surpresa ao Senado
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2006, Nacional, p. A9

Ex-presidente, eleito senador pelo PRTB, passou por seu futuro gabinete e fez comentário sobre eleição 'morna'

Quase catorze anos depois da histórica decisão do Senado que declarou o seu impeachment, o ex-presidente da República e senador eleito por Alagoas, Fernando Collor de Mello (PRTB), visitou o palco onde foi degolado. De mãos dadas com sua nova mulher, Caroline Medeiros, Collor desfilou sorrindo pela Casa, mas preferiu não dar entrevistas.

Em conversa reservada com o senador Siqueira Campos (PSDB-TO), ele confidenciou que, em sua avaliação, a campanha do segundo turno das eleições para presidente está morna. Em 1992, Campos era deputado do PDC e votou pela autorização da abertura do processo de impeachment de Collor. 'Ele (Collor) disse que não está vendo uma campanha apaixonada, com gente nas ruas', contou.

Eleito pelo minúsculo PRTB, com mais de 500 mil votos, Collor se mostrou interessado nas discussões do Congresso sobre a cláusula de barreira, que começou a vigorar nestas eleições. Por este dispositivo, apenas os partidos que obtiveram 5% dos votos apurados, distribuídos em pelo menos nove Estados, têm direito a funcionamento parlamentar - como liderança, participação em comissões temáticas e fatia maior do fundo partidário.

'Collor lembrou que existe respaldo popular para a existência desses partidos, como o PC do B e o PV', observou Campos.

O encontro dos dois teve um outro propósito: o gabinete de Campos deve ser o futuro local de trabalho de Collor, uma vez que o tucano não se reelegeu.

O novo parlamentar aproveitou a passagem pelo Senado para avisar que ficará no apartamento funcional a que tem direito. A Casa da Dinda - onde viveu seus últimos momentos antes de sofrer o impeachment - servirá para os fins de semana.

Nestas eleições, Collor entrou na corrida para o Senado já no final da campanha, substituindo um candidato com poucas chances de vitória no pequeno PRTB. O senador eleito por Alagoas, que vai se sentar na cadeira do plenário destinada hoje à senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), já anunciou seu apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista - que em 92 perdeu para Collor - declarou na semana passada que o antigo adversário tem condições de 'fazer um trabalho excepcional no Senado, se quiser'.

Collor telefonou anteontem à noite para o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, para comunicar a visita às dependências da Casa. Como ex-presidente, o regimento interno lhe proporciona a prerrogativa de escolher o gabinete. 'Ele achou que era uma sexta-feira enforcada pelo feriado e que seria mais tranqüilo', resumiu Agaciel.

Além do gabinete de Campos, Collor visitou o plenário, onde foi confirmada a cassação de seu mandato em 92, mesmo depois de apresentada carta de renúncia - ele ficou inelegível por oito anos. Tentou em 1994 candidatar-se à Presidência, mas não obteve registro. Ainda disputou a Prefeitura de São Paulo em 2000 e o governo de Alagoas em 2002, ocasiões em que foi derrotado.