Título: Embaixador americano espera desde agosto audiência com Lula
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2006, Nacional, p. A12

Planalto alega que entrega das credenciais de Clifford Sobel foi adiada por problemas na agenda do presidente

Adriana Chiarini, RIO

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, ainda não foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apresentar as suas credenciais. Ele está no País desde 1º de agosto.

De acordo com a Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto, a entrega de credenciais dele e dos embaixadores do México, da Namíbia e do Vietnã estava marcada para a última terça-feira, mas foi adiada por causa de problemas de agenda do presidente Lula. A nova data ainda não foi definida.

Uma fonte da alta hierarquia militar disse ao Estado que Sobel procurou o governo brasileiro para cobrar ações de combate ao financiamento ao terrorismo na região da tríplice fronteira - Brasil, Argentina e Paraguai -, que inclui Foz do Iguaçu, no Paraná.

De acordo com essa fonte, Sobel também fez perguntas sobre o relacionamento do Brasil com a Venezuela e especialmente com o presidente Hugo Chávez. O venezuelano não se furta a falar mal do 'império', como se refere aos Estados Unidos, e acusa o governo George W. Bush de ter tentar derrubá-lo do cargo.

REMESSAS

A Embaixada dos Estados Unidos admite que, nos últimos dois meses e meio, Sobel tem procurado conversar com pessoas de várias áreas sobre diversos assuntos de interesse dos Estados Unidos. No entanto, não informa com quem ele discute nem os assuntos.

A posição oficial do governo brasileiro tanto sobre a Tríplice Fronteira como sobre Chávez é de que não há ameaça à segurança nacional. A fonte militar admite, porém, que há brasileiros descendentes de árabes naquela região que mandam dinheiro para suas famílias no Oriente Médio.

Parte desse dinheiro, no entanto, pode estar virando contribuição para organizações como o Hezbollah, que promove atos terroristas principalmente em Israel, país aliado dos Estados Unidos.

'As pessoas não são proibidas de mandar dinheiro para o exterior. Os Estados Unidos querem transferir para nós um problema que não é nosso', comentou a fonte.

CRIME

O adido de imprensa adjunto da Embaixada dos Estados Unidos, Robert Mooney, informou que seu país não se opõe a remessas legais de recursos para o exterior e frisou que 'não há evidência de terrorismo operacional na região (da Tríplice Fronteira)'. Disse, porém, que há preocupação dos EUA no sentido de que 'dinheiro de atividades ilegais vá financiar o terrorismo em outros países'.

Essas atividades irregulares seriam tráfico de armas e drogas, fraude de documentos e lavagem de dinheiro. Segundo Mooney, os governos de Brasil, Argentina e Paraguai reconhecem a existência desses crimes na região da fronteira comum e convidaram os Estados Unidos, já há alguns anos, para participar de ações conjuntas.

O governo americano não só participa dessas ações como procura colaborar, destacou Mooney. A embaixada não confirma nem nega a preocupação com as relações entre Brasil e Venezuela.