Título: ONU pode votar hoje sanções à Coréia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2006, Internacional, p. A16

Conselho de Segurança tem acordo quase fechado para impor medidas não-militares, como embargo de armas pesadas

AP E REUTERS

O Conselho de Segurança da ONU alcançou ontem de manhã um acordo sobre a maior parte de um projeto de resolução para impor sanções não-militares à Coréia do Norte - em represália pelo teste nuclear de segunda-feira -, o que levou os EUA, otimistas, a anunciar para hoje de manhã a votação. No fim da noite, porém, o embaixador americano John Bolton indicou que a última divergência restante poderia atrasar a votação. 'Teremos de ver quais serão as instruções durante a noite, particularmente de Moscou e China', afirmou Bolton, mantendo, entretanto, a esperança de que as sanções sejam aprovadas hoje.

As conversações avançaram depois que os EUA, cedendo à pressão de Rússia e China (que têm poder de veto no Conselho), abrandaram seu projeto pela terceira vez, eliminando um trecho que deixaria aberta a possibilidade de ação militar contra o regime comunista de Pyongyang. Outra mudança foi a limitação do embargo sobre o comércio de armas - na versão anterior, ele abrangeria qualquer armamento convencional, mas agora será restrito às armas pesadas e de destruição em massa.

Segundo diplomatas, a principal objeção remanescente quanto ao projeto se refere ao item que autoriza qualquer país da ONU a inspecionar carregamentos que venham da Coréia do Norte ou sejam destinados a ela, em busca de materiais que possam ser usados em armas atômicas ou mísseis de longo alcance. China e Rússia querem que fiquem claramente definidos limites legais para as inspeções. 'Nós e a China temos uma posição comum: é preciso ter equilíbrio e não aplicar sanções extremas', disse o chanceler russo, Serguei Lavrov.

Além de estabelecer as inspeções e o embargo parcial de armas, o projeto de resolução congela depósitos de indivíduos e entidades ligadas aos programas bélicos norte-coreanos, proíbe viagens de pessoas relacionadas a eles e exige que o regime de Kim ponha em prática rapidamente um acordo de setembro de 2005, no qual prometia desistir de seu programa nuclear em troca de ajuda e garantias de segurança.

Ontem, após reunir-se com autoridades norte-coreanas em Pyongyang, o vice-chanceler russo Alexander Alexeyev afirmou que o governo de Kim Jong-il está disposto a retomar as conversações com EUA, China, Coréia do Sul, Japão e Rússia a respeito de seu programa nuclear. 'A Coréia do Norte deseja, num futuro próximo, resolver por meio de negociações os problemas relativos à desnuclearização da Península Coreana', disse Alexeyev, segundo a agência Itar-Tass. Pyongyang deixou as negociações há 13 meses.

Em Washington, um funcionário do governo americano citado pela TV CNN disse que os EUA, que têm colhido amostras de ar sobre o local do teste nuclear subterrâneo da Coréia do Norte, finalmente encontraram traços de radioatividade na área, o que indica que o teste realmente ocorreu.

Ainda ontem, o presidente americano, George W. Bush, firmou uma lei impondo punições a estrangeiros que forneçam tecnologia de armas à Coréia do Norte. Entre as punições está a perda do direito de obter contratos do governo americano ou licenças de exportação para os EUA. Na próxima semana, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, visitará Japão, Coréia do Sul e China para discutir a crise.