Título: Álcool - o melhor substituto do petróleo
Autor: Luiz Gonzaga Bertelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2006, Economia, p. B2

Uma vantagem importante do Brasil em relação às diversas economias mundiais é a abundância de terra agricultável.

São poucos os países em desenvolvimento que ainda possuem território rural a ser aproveitado em larga escala.

Com efeito, a agricultura brasileira utiliza menos de 10% da superfície do País. A maior parte do território continental pátrio é ocupada por pastagens e engorda de animais (35%). As florestas correspondem a 55% e a cana-de-açúcar corresponde a 0,7%, com produção de 472 milhões de toneladas na safra em curso de 2006-2007, recorde histórico, embora Gilberto Freire tenha dito, certa feita, erroneamente, que o Brasil é um verdadeiro mar de cana.

Com 850 milhões de hectares, a Nação tem uma grande fração do território em efetivas condições de sustentar economicamente a produção agrícola.

A indústria sucroalcooleira (87% na Região Centro-Sul) já fabrica 17 bilhões de litros ano/safra, o suficiente para alimentar a frota automobilística interna, além de possibilitar a mistura de mais de 20% do álcool anidro à gasolina automotiva. Desde o ano passado os americanos se tornaram o maior produtor de álcool com o aproveitamento do milho, tirando a condição brasileira de líder mundial da fabricação do combustível.

Não obstante, o somatório da produção alcooleira do Brasil e da nação americana, de cerca de 34 bilhões de litros anuais, não causa ainda preocupações no gigante petróleo, já que corresponde a menos de 2% do consumo mundial de gasolina.

O álcool combustível possibilita a adição e a melhoria de qualidade da gasolina refinada pela Petrobrás, criando condições ambientais favoráveis à vida humana, especialmente nos grandes conglomerados urbanos. Quando foi estruturado o Proálcool, não se imaginavam os sensíveis benefícios dos carros a álcool na melhoria do meio ambiente, eis que o programa se voltava, exclusivamente, à diminuição do petróleo importado. O programa já evitou a emissão de 403 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera entre 1975 e 2000.

As vantagens do plano nacional do álcool só foram decantadas mais tarde, quando a indústria alcooleira já estava consolidada. Dignas de menção são as pesquisas do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP.

Após virar as costas, durante anos, para a indústria do álcool, a Petrobrás redireciona estrategicamente os seus investimentos e a sua atuação nas energias limpas e renováveis, inclusive a fim de exportá-las. De janeiro a agosto deste ano, as exportações da indústria alcooleira renderam US$ 4,5 bilhões. Elas poderiam ser maiores, se os americanos retirassem a atual tarifa de importação (US$ 0,54 litro/álcool).

Aos 53 anos de existência, a nossa principal empresa do País intensifica a busca por novos mercados, com vista a ampliar a sua área de influência e diversificar o portfólio.

Exaurida a sua capacidade de refino do petróleo no País, em torno de 1,8 milhão de barris/diários, a Petrobrás pretende adquirir refinarias em outros países. Algumas dessas unidades serão adaptadas, inclusive, para o processamento do óleo pesado da Bacia de Campos, onde é extraído 90% do petróleo nacional em águas profundas.

O grande diferencial da Petrobrás em relação às demais organizações petroleiras é a sua inquestionável capacidade de operar em águas profundas, em virtude da tecnologia desenvolvida ¿offshore¿.

Com a alta do petróleo, que no final da década poderá alcançar os US$ 100/barril, o Brasil apresenta-se ao mundo com uma matriz energética abundante e diversificada, onde predominam as energias limpas e renováveis, o que nos assegura a condição de conquistar, mais ainda, mercados externos.

Inquestionavelmente, o álcool é a melhor alternativa para substituir o petróleo nas próximas décadas. Thomas Friedman, do The New York Times, que visitou recentemente o Brasil, afirma que a era do petróleo não vai se encerrar por falta de petróleo, mas porque o preço subirá tanto que serão desenvolvidas alternativas, entre elas o etanol do milho ou da cana-de-açúcar.

Há quem diga, inclusive, que a capacidade de geração de eletricidade hídrica e a biomassa brasileira poderão transformar o Brasil numa verdadeira Opep de energia, eis que temos todas as condições necessárias. Para tanto, haverá a necessidade de criação e facilidades para instauração das empresas e para prosperar políticas públicas.

*Luiz Gonzaga Bertelli, jornalista e advogado, é diretor de Energia da Fiesp