Título: Lula: 'Berzoini caiu por não explicar'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Nacional, p. A5

Presidente afirmou no Roda Viva que petista não soube informar quem arquitetou dossiê, que chamou de 'burrice'

Na tentativa de afastar o escândalo do dossiê Vedoin da sua candidatura e evitar que o caso lhe traga prejuízos eleitorais, como no primeiro turno das eleições, o presidente e candidato à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou ontem que afastou o deputado Ricardo Berzoini (SP) da coordenação de sua campanha,porque ele não soube explicar quem arquitetou a compra do material que seria usado contra tucanos por R$ 1,75 milhão. O escândalo é apontado como um dos fatores que impediram a vitória de Lula no primeiro turno.

'Chamei o presidente do partido (Berzoini) e perguntei: 'Eu quero saber quem fez essa burrice, porque foi de uma sandice inominável'. Ele me disse que não sabia. Eu o afastei', disse Lula, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que foi ao ar ontem à noite No próximo domingo, será a vez do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin.

Lula falou ainda de outros temas espinhosos no programa, como o envolvimento da empresa do seu filho, Fábio Luiz Lula da Silva, com o Grupo Telemar. Também negou que PT esteja fazendo terrorismo eleitoral contra seu adversário.

BERZOINI - 'Chamei o presidente do partido e perguntei: 'Eu quero saber quem fez essa burrice, porque foi de uma sandice inominável'. Ele me disse que não sabia. Eu falei: 'Ricardo, você que é o presidente do partido tem obrigação de apresentar para a sociedade brasileira uma resposta'. Ele não deu. Na quinta-feira (na verdade, na quarta-feira, dia 20), eu o afastei da coordenação da campanha.'

JUSTIÇA - 'Agora, meu caro, o que eu posso esperar? Que a Justiça Federal faça a investigação, diga e confirme com ele (Berzoini) o que eu não consegui. Essas coisas são sempre assim. Se fosse uma coisa boa, todo mundo contava. Como é ruim, as pessoas escondem. Do ponto de vista da minha campanha, preferiria que quem fez assumisse. A ordem à PF é que não deixe pedra sobre pedra.'

TERRORISMO ELEITORAL - 'Não falamos nada mais do que o que a imprensa constatou durante todo mandato de Fernando Henrique e do governador Alckmin, que privatizaram quase tudo o que tinha no Estado de São Paulo e no Brasil. O trabalho deles é vender o patrimônio público e depois as dívidas sequer são pagas. Não estamos inventando nada, estamos insinuando. Ele que diga textualmente que não vai fazer (privatizar). A prática do PSDB, porém, não tem sido essa.'

LULINHA E O GRUPO TELEMAR - 'Teve investigação, fizeram uma auditoria e não acharam nada. Vale para o meu filho (Fábio Luiz Lula da Silva, investigado pela CPI dos Correios) o que vale para os 190 milhões de brasileiros. Se ele está errado, ele paga. Agora, não posso impedir que ele trabalhe. Se quiser trabalhar que trabalhe e alguém diga que houve alguma coisa ilegal ou não.'

FAMÍLIA NA CAMPANHA - 'Não tocarei em coisas (assuntos) pessoais do meu adversário (na campanha). Não toquei na do Collor, FHC, Serra e não tocarei na do Alckmin. Não faz parte do meu comportamento político. Agora, não posso responder pelo site que um companheiro fez (a mulher e filha do tucano foram alvo de ataques em artigo nos sites do PT e de Lula).'

ALCKMIN ENSANDECIDO - 'Eu estranhei o comportamento do meu adversário, porque ele sempre foi tranqüilo, leve. Ele estava ensandecido naquele programa (o debate promovido pela TV Bandeirantes no dia 7). Eu acho que Alckmin pensou que poderia resolver o problema da guerra com uma única batalha. Não gostei, mas não me queixei porque campanha desfigura as pessoas.'

GOVERNO NÃO PRENDE - 'Desde o início houve tentativa de dizer que o presidente sabia, como se fosse possível o presidente saber de tudo que acontece no território nacional. Quando eu era dirigente sindical, ia para as portas de fábricas e culpava os presidentes da República por não prenderem as pessoas. Era pura ignorância minha, porque não é o governo que prende. Para prender é preciso que a gente respeite o funcionamento das instituições.'

AMIGOS NOS ESCÂNDALOS - 'O Zé Dirceu e o (Antonio) Palocci (ex-ministros afastados) poderiam ser ministros de qualquer governo. Agora vão ser julgados. Não existe amigo nessas coisas. Existe comportamento. Quando faz coisa ruim, paga por elas. Meu cuidado era não deixar o governo parar.'

AJUSTE FISCAL - 'Toda minha vida, quando eu precisava de mais recursos, não vendia a geladeira; fazia hora extra, trabalhava mais. No Brasil, virou moda falar em gasto. A gente já sabe onde vai cair: cortar políticas sociais, cortar salário. Quando vejo um assessor dizer que vai economizar R$ 60 bilhões, é heresia, é sufocar este país a mais 20 anos de arrocho.'

REDUÇÃO DE JUROS - Eu sou favorável a mais redução dos juros. É por isso que, com a última medida que nós tomamos, vamos terminar o ano desonerando R$ 23 bilhões. A orientação é continuar desonerando todos os setores. A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas reduz impostos e eu me pergunto todo santo dia por que não foi aprovada ainda.'

PITO NO CONGRESSO - Vamos pedir que o Congresso vote (a Lei das Micro e Pequenas Empresas). Aliás, eles deveriam estar votando agora. Já acabou a eleição para deputados. Deixe eu e meu adversários nos digladiarmos por aí.'

FUTURO - 'Vou voltar para São Bernardo a 600 metros do sindicato que me criou como político (se não for reeleito). Acho que Deus já foi generoso comigo ao extremo de permitir uma alternância de poder. Estou tranqüilo. Acho que cumpri meu papel como presidente e tenho possibilidade de fazer muito mais porque aprendi muito.'