Título: Procurador pede quebra de sigilo de Freud e Lacerda
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Nacional, p. A6

Avelar e PF querem saber papel dos dois na obtenção dos dólares

Investigadores do caso do dossiê Vedoin decidiram pedir a quebra dos sigilos bancários de dois personagens centrais no caso. O procurador da República no Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, pediu à Justiça a quebra do sigilo de Freud Godoy, ex-segurança do presidente Lula e apontado, inicialmente, como mandante do pagamento pelo material anti-tucanos. A Polícia Federal decidiu adotar o procedimento com relação a Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo.

No caso de Freud, a quebra se estende de janeiro a setembro deste ano e inclui operações de compra e venda de ações, realizadas pela Telemig junto à Bolsa de Valores, e movimentações em sua conta. O procurador quer saber se realmente foram transferidos R$ 396 mil em ações do investidor Naji Nahas para Freud em transação feita pela corretora do Banco Alpha. O Ministério Público também quer checar a real participação na compra do dossiê.

O dinheiro da venda de ações teria sido depositado por Nahas em favor de Freud numa agência do Banco do Brasil em Brasília e depois repassado para a Caso Sistema de Segurança LTDA., empresa da mulher do ex-segurança, Simone.

Em nota, Freud e seu advogado disseram que houve violação ilegal de seu sigilo bancário. 'Não há qualquer decisão judicial autorizando a divulgação ou acesso aos dados bancários seja de Freud, seja da empresa Caso.' Eles também negam a existência das movimentações.

O nome do ex-segurança entrou na trama depois que Gedimar Passos, ex-agente da PF e ex-integrante do núcleo de inteligência da campanha de Lula, declarou em seu primeiro depoimento que foi 'a mando' de 'Froude' ou 'Freud' que pagaria pelas denúncias do chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antônio Vedoin, contra políticos tucanos. No segundo depoimento, Gedimar se calou e, na última semana, disse que envolveu o ex-segurança por pressão do delegado Edmilson Bruno.

Desde que o nome de Freud surgiu no escândalo, o governo tem se esforçado para separá-lo do resto dos envolvidos e demonstrar que a inclusão de seu nome não passou de equívoco.

No caso de Lacerda, a PF avalia que o rastreamento de sua movimentação financeira pode trazer informação importante para a investigação. O pedido, que inicialmente não era cogitado, foi entregue ontem à Justiça Federal, que ainda não decidiu se o autoriza ou não.

A PF não costuma acreditar na eficácia dessa medida, pois trabalha com a hipótese de que ninguém envolvido numa trama criminosa vai usar a própria conta bancária para transitar dinheiro de origem ilícita. Mas esse conceito foi revisto depois que se tornou pública suposta operação de depósito de R$ 396 mil na conta de Freud.

A situação de Lacerda se complicou quando imagens do circuito fechado do Hotel Íbis, onde Valdebran e o empresário Gedimar Passos foram presos com o R$ 1,75 milhão que compraria o dossiê, mostraram o ex-assessor de Mercadante tomando o elevador carregando uma pasta. À PF, Lacerda disse que levava apenas um notebook, boletos e material de campanha do PT. Valdebran o desmentiu.

Arrecadador de campanhas do partido em Mato Grosso, ele afirmou ao delegado Diógenes Curado, que preside o inquérito, que foi Lacerda quem lhe entregou o dinheiro.

O ex-coordenador da campanha paulista é um dos principais alvos da apuração. Para a PF, ele é um dos mentores do golpe, mas não o número um. Acima dele podem estar nomes mais importantes na hierarquia do PT, acredita a polícia.

Lacerda já teve seu sigilo telefônico aberto por ordem da Justiça Federal. O histórico de chamadas a partir de quatro celulares aponta contatos com ministérios e com a cúpula do PT.

COLABOROU FAUSTO MACEDO