Título: Para Biscaia, R$ 1,75 milhão que PF apreendeu com petistas é ilícito
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Nacional, p. A6

Presidente da CPI garante estar atuando de maneira independente e avisa que não aceitará uso político do caso

O deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da CPI dos Sanguessugas, disse ontem que está convencido sobre a 'origem criminosa' da bolada de R$ 1,75 milhão que quadros do seu partido levantaram para comprar o dossiê Vedoin. Biscaia veio a Cuiabá para retirar na Polícia Federal cópia do inquérito que investiga a trama contra o governador eleito de São Paulo, José Serra, e o candidato a presidente Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.

O petista conversou por uma hora com o superintendente da PF, delegado Daniel Lorenz, que garantiu estar agindo com independência e autonomia, livre de pressões do governo. Também foi recebido pelo juiz Jefferson Scheinneder, da 2ª Vara Federal de Mato Grosso.

'A origem (do dinheiro para o dossiê) é ilícita, quanto a isso não há a menor dúvida', reiterou Biscaia. 'A origem do dinheiro é criminosa, mas dizer se é desta ou daquela atividade criminosa é prematuro.'

Segundo o deputado, a conclusão sobre a procedência escusa do dinheiro encontra amparo no fato de que o rastreamento oficial não identificou saques no sistema financeiro naquele montante. 'Não há no período saques lícitos de valores nesse total', explicou, referindo-se ao intervalo de um mês antes da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha, com o dinheiro, em um hotel de São Paulo, em 15 de setembro. 'Então, é lógico que a origem é criminosa. Quanto a isso não há mais dúvida.'

Ele explicou que consultou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para tentar descobrir saques que pudessem se encaixar com a tentativa de compra do dossiê. 'Fui ao Coaf com outros parlamentares. Não há saques nesse montante', assegurou. 'Os saques, se aconteceram em estabelecimentos bancários, foram feitos de forma parcelada, em pequenos volumes.' Biscaia afirmou ainda que não vai permitir que a CPI se transforme em espaço para disputa político-eleitoral a partir do dossiê Vedoin.

Daniel Lorenz, chefe da Polícia Federal em Mato Grosso, contou que a investigação sobre o caso segue 'boas pistas, bastante interessantes'. Ele confirmou que o rastreamento telefônico mostra contatos dos envolvidos com 10 ministérios e órgãos públicos federais.

'Estamos trabalhando no tempo da investigação e não no tempo do calendário eleitoral', argumentou. O superintendente disse que 'é possível' que ocorram novos pedidos à Justiça de quebra de sigilo bancário e telefônico de suspeitos.

Ele confirmou 'diligências muito importantes em curso'. Disse que, 'antes das eleições, a PF deverá esclarecer a origem do dinheiro ou pelo menos apresentar uma boa tese'.