Título: Equador suspende apuração e candidato chavista denuncia fraude
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Internacional, p. A16

Sistema administrado por empresa brasileira entra em colapso e mergulha eleição equatoriana na confusão

Um colapso no sistema de totalização de votos, administrado pelo consórcio brasileiro E-Vote, fez a apuração das eleições de domingo no Equador mergulhar na confusão e alimentou acusações de fraude feitas pelo candidato esquerdista a presidente Rafael Correa. Até ontem à noite, a apuração continuava paralisada. Apenas 70,6% dos votos da eleição presidencial tinham sido contados e os equatorianos não tinham nenhuma idéia sobre quais candidatos ocuparão as 100 cadeiras do Congresso federal e as centenas de vagas dos Legislativos provinciais e municipais.

O Tribunal Supremo Eleitoral - que dá como fato consumado apenas a necessidade da realização de um segundo turno entre o milionário populista de direita Álvaro Noboa (com 26,66% dos votos, segundo o último boletim) e o nacionalista Correa (com 22,51%) -, anunciou o rompimento do contrato com a E-Vote, que receberia US$ 5,2 milhões para realizar o trabalho de apuração dos dois turnos da eleição. O presidente do tribunal, Xavier Cazar, confirmou para 26 de novembro a realização do segundo turno.

A E-Vote só se pronunciou no fim da tarde de ontem sobre o caso. Seu representante no Equador, o argentino Santiago Murray, disse que o sistema de computação montado pela empresa ficou sobrecarregado, afirmou que serão acrescentados mais computadores e prometeu divulgar hoje os resultados totais da apuração. O contrato que a E-Vote tinha com o TSE previa a apuração de 100% dos votos da eleição presidencial no prazo de três horas depois do encerramento da votação, no domingo, e o resultado da eleição para o Congresso até a meia-noite local do mesmo dia.

A demora na apuração vem alimentando as acusações de Correa - apoiado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez -, inconformado com o segundo lugar que lhe dá a contagem parcial. 'Advertimos que os números que estão sendo divulgados têm como base as informações da empresa E-Vote, cujo sistema ninguém conhece', disse Correa, insistindo que pesquisas encomendadas por seu partido lhe dão uma pequena vantagem sobre Noboa na votação de domingo. 'O relatório da Organização dos Estados Americanos nos diz que o sistema fracassou e não estava atualizado. Facilmente esse sistema pode ser programado para que a cada três votos dados a mim, um seja retirado e desviado para outro candidato.'

Apesar do impasse na apuração, Noboa e Correa já se lançaram à tarefa de conquistar o nada desprezível apoio dos outros três candidatos mais bem votados no primeiro turno da eleição presidencial: Gilmar Gutiérrez, irmão do ex-presidente Lucio Gutiérrez, que obtinha 16,4% dos votos; León Roldós, da Esquerda Democrática, que tinha 15,5%; e a conservadora Cynthia Viteri (9,9%).

Gutiérrez disse que seu partido apoiará o candidato que se comprometesse a levar aos tribunais o ex-presidente Alfredo Palacio, a quem Lucio Gutiérrez acusa de tramar sua derrubada em 2003. Líderes da Esquerda Democrática dão quase como certo o apoio do partido a Correa, como forma de impedir que Noboa - o homem mais rico do Equador, que fez fortuna com a exportação de bananas - chegue ao poder. O Partido Social-Cristão, de Cynthia, tende a declarar seu apoio a Noboa, que, durante a campanha, defendeu o rompimento de relações diplomáticas com Cuba e Venezuela.

FRANCE PRESSE, ASSOCIATED PRESS, EFE E REUTERS