Título: Brasil vota em Caracas, mas torce por outra opção
Autor: Adriana Carranca
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Internacional, p. A10

O governo Luiz Inácio Lula da Silva votou ontem em favor da candidatura da Venezuela para uma vaga não-permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas não moveu uma palha em favor do país. Fontes do Itamaraty deixaram claro que o governo optou por uma posição discreta e cautelosa diante das mais recentes extravagâncias do presidente venezuelano, Hugo Chávez, como a de chamar George W. Bush de 'demônio' em plena Assembléia-Geral da ONU. Pesou também a interferência da Venezuela nos interesses do Brasil na Bolívia. Depois da série de votações frustradas de ontem na Assembléia-Geral, a diplomacia brasileira parece torcer pela manutenção do impasse, o que abriria a possibilidade para uma terceira candidatura da América Latina - o Chile e o Uruguai têm sido citados. Qualquer um destes teria não só o voto de Brasília, como seu trabalho nos bastidores. Para o governo Lula, a escolha entre Guatemala (distante dos pontos de vista geográfico, político e econômico do Brasil) e Venezuela (vizinho cuja adesão ao Mercosul foi aceita em 2005 e com o qual mantém interesses comerciais e energéticos) não deixou saída. O Brasil votou por Caracas. Mas, ao contrário do que se verificou na disputa pelo posto de secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, em maio, não batalhou em favor de seu candidato. Na OEA, o Brasil conseguiu reverter os votos do Paraguai e Haiti em favor do chileno José Miguel Insulza, que foi o escolhido.