Título: Venezuela não desiste de vaga
Autor: Adriana Carranca
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Internacional, p. A10

Após 10 votações, impasse persiste, apesar de Guatemala ter mais votos para o Conselho

, ENVIADA ESPECIAL, NOVA YORK

Nem os chocolates gentilmente distribuídos pela delegação da Venezuela nem os braceletes da campanha da Guatemala foram suficientes para dar a qualquer um dos candidatos à vaga não-permanente no Conselho de Segurança da ONU os votos necessários para garantir o assento. A falta de consenso fez com que a decisão fosse deixada em aberto ontem, após dez rodadas de votação em que prevaleceu o impasse. O processo de escolha será retomado às 10 horas de hoje.

A última votação de ontem foi favorável à Guatemala, que obteve 110 votos, contra 77 da Venezuela e 4 abstenções, números praticamente iguais aos da primeira rodada, no início do dia, quando houve 109 votos para a Guatemala, 76 para a Venezuela e 7 abstenções.

O impasse pode levar à escolha de um terceiro candidato a ser apresentado pelos 33 países latino-americanos na ONU. Em 1979, o México assumiu o assento no CS após o impasse entre Cuba e Colômbia ter se estendido por quase três meses, ao longo dos quais foram realizadas 154 rodadas de votação.

As votações de ontem mostraram que a influência internacional de Hugo Chávez não vai tão longe quanto acredita o presidente venezuelano - que se prepara para disputar a reeleição em dezembro e tem feito campanha pela vaga no CS enviando assistência a países latino-americanos e da África, enquanto, dizem seus opositores, a pobreza cresce em seu próprio país. Mas também representam um fracasso para Washington, que quis impor aos outros países a sua posição anti-Venezuela, mas não conseguiu que chegassem a um consenso por seu candidato, a Guatemala. 'Foi um dia longo, mas está clara a preponderância da Guatemala', disse o embaixador americano na ONU, John Bolton, sem querer assumir a derrota. 'Eu não chamaria o resultado de hoje de impasse. Esse foi apenas o primeiro dia. Já houve disputas em que foi necessária mais de uma centena de rodadas de votação. Estou preparado para um longo processo.'

Embora Bolton não admita, o apoio dos EUA à Guatemala é mais um esforço para evitar uma vitória de Chávez do que uma preferência pelo país centro-americano. 'Estamos preocupados com a integridade da ONU e trabalhando para garantir que os trabalhos do Conselho de Segurança não sejam interrompidos', disse Bolton. 'A Guatemala é uma democracia emergente, que tem forças de paz em todo o mundo.'

O próprio chanceler da Guatemala, Gert Rosenthal Koenigsberger, disse aos repórteres, após a décima rodada de votação, que o apoio de Washington 'é mais uma tentativa de prevenir a entrada da Venezuela no Conselho de Segurança do que suporte direto à Guatemala'.

O lobby dos EUA na sala onde ocorria a votação seguiu durante todo o dia, com conversas particulares entre Bolton e representantes das delegações que os americanos acreditavam estar do lado da Venezuela. As delegações dos dois países também intensificaram o lobby durante o dia, enquanto os resultados oscilavam.

'Não chegaram a conversar com o Brasil porque os americanos conhecem a nossa posição. Nosso candidato é a Venezuela, conforme acordo feito com os outros cinco membros do Mercosul', disse o embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Sardenberg.

A Argentina também declarou apoio à Venezuela, ao lado da Bolívia, Paraguai e Uruguai. Apenas o Chile se absteve. América Central e México se aliaram aos EUA no apoio à Guatemala.

A dificuldade venezuelana em conquistar a cadeira foi explorada ontem pelo candidato à presidência de oposição a Chávez, Manuel Rosales. O candidato qualificou a derrota como 'um fracasso da política externa de Chávez' e exortou o presidente a buscar 'uma saída intermediária que não ridicularize ainda mais a Venezuela no cenário internacional'