Título: 30 países podem ter bomba logo, alerta AIEA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Internacional, p. A17

Baradei teme que tecnologia para fins pacíficos seja usada em armas

AP

O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o egípcio Mohamed El Baradei, disse ontem que pelo menos 30 nações, além das 9 que já têm bombas atômicas, teriam capacidade de produzir armas nucleares 'em um tempo muito curto' - sem especificá-lo. Em uma conferência em Viena, com 500 especialistas, para discutir formas de melhorar o controle sobre a proliferação nuclear, Baradei advertiu que tensões políticas podem levar alguns países a transformar seus conhecimentos tecnológicos em armas. O chefe da AIEA afirmou que uma nação, mesmo que tenha intenção inicialmente de apenas produzir energia nuclear para fins pacíficos, pode desenvolver uma bomba 'baseando-se no seu senso de segurança ou insegurança'.

Para Baradei, os países que iniciaram programas de enriquecimento de urânio converteram-se em 'novos Estados virtualmente armados'. 'O conhecimento saiu da superfície. Para fins pacíficos, mas infelizmente também para fins não pacíficos.' Ele não citou nenhum país específico, mas claramente aludia ao Irã e a outras nações - como o Brasil - ao comentar sobre Estados que estão desenvolvendo capacidade para enriquecer urânio. Outros que anunciaram recentemente considerar o enriquecimento para produção de energia são Austrália, Argentina e África do Sul. Além das formalmente declaradas potências nucleares - EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha -, quatro outros Estados têm armas atômicas: Índia, Paquistão, Israel e a Coréia do Norte.

As nações que estariam em condições de produzir material físsil capaz de gerar armas nucleares seriam Canadá, Alemanha, Suécia, Bélgica, Suíça, Taiwan, Espanha, Hungria, República Checa, Eslováquia e Lituânia. Todos esses são Estados comprometidos com a não-proliferação, e nenhum deles sugeriu ter a intenção de produzir armas nucleares. Outros países que consideram desenvolver programas nucleares em um futuro próximo são Egito, Bangladesh, Gana, Indonésia, Jordânia, Namíbia, Moldávia, Nigéria, Polônia, Tailândia, Turquia, Vietnã e Iêmen.

Baradei também criticou indiretamente os países que possuem armas nucleares, dizendo que não faz sentido eles manterem seus arsenais enquanto pedem que outras nações não entrem no clube atômico.

Os programas nucleares de Irã e Coréia são uma grande preocupação da comunidade internacional no momento. Eles despertam temores sobre uma possível corrida pela tecnologia nuclear na Ásia e no Oriente Médio, o que poderia resultar em bombas nucleares.

O alerta de Baradei foi direcionado para o potencial mau uso do enriquecimento de urânio. Este pode levar tanto urânio pouco enriquecido - incapaz de gerar armas nucleares - quanto altamente enriquecido - condição necessária para a produção de armas. 'Infelizmente, o clima é de insegurança', analisou o egípcio. O simpósio da AIEA busca avaliar as últimas tecnologias para descobrir atividade nuclear clandestina. Entre as tecnologias estão imagens de satélite e sensores a distância.