Título: Choques matam 91 em enclave xiita
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Internacional, p. A18

Espiral de violência iniciada há seis dias na cidade de Balad causa banho de sangue e provoca êxodo sunita

AP E REUTERS

A violência sectária entre xiitas e sunitas iraquianos iniciada há seis dias em Balad - cidade de 100 mil habitantes a 80 km ao norte de Bagdá - já deixou 91 mortos e está causando um êxodo de famílias sunitas da região.

Além do banho de sangue em Balad, explosões de carros-bomba e emboscadas mataram ontem mais de 60 pessoas em todo o Iraque. Apenas em Bagdá, a polícia encontrou 67 corpos, ainda não identificados. Em Basra, no sul do país, granadas atingiram um carro do consulado britânico. Não houve mortos, mas um guarda saiu ferido.

Balad é um enclave com 70% de população xiita cercado por cidades de maioria sunita. A matança começou na quarta-feira, quando três sunitas foram seqüestrados e assassinados por uma milícia xiita. No dia seguinte, em retaliação, 17 xiitas foram seqüestrados e depois assassinados. Os corpos foram encontrados na sexta-feira. Muitos tinham sido decapitados e queimados, o que detonou a explosão de violência entre as duas comunidades na região.

No sábado, os xiitas começaram a bloquear ruas e estradas de Balad. Os sunitas que tentavam passar por suas barreiras passaram a ser agredidos ou mortos.

Mohamed Ali Hamid, um taxista sunita, disse que andou por duas horas até chegar em Duluiyah, um cidade de maioria sunita vizinha à Balad, na outra margem do Rio Tigre. Segundo ele, milícias xiitas acompanhadas pela polícia deram duas horas para que todos fugissem. 'Eles diziam: 'vocês não pertencem a este lugar'. Colocaram fogo em todas as propriedades dos sunitas', contou Hamid.

O relato de Ahmed Ali, um motorista sunita, confirma as ameaças. 'Eles deram duas horas de aviso para que meus familiares fugissem, mas em meia hora voltaram e mataram quatro deles.'

Adil al-Sumaidai, um oficial do Partido Sunita Islâmico, disse que mais de 60 famílias sunitas já fugiram da região. 'O desespero é tanto que eles estão partindo sem destino. Isso é uma manobra sectária para obrigar os sunitas a abandonar a cidade para sempre', denunciou.

Os confrontos deixaram um rastro de corpos mutilados nas estradas da região. Das 91 mortes confirmadas, 74 eram de sunitas. O governo iraquiano não demonstra ter poder para controlar o banho de sangue em Balad. Moradores da região acusam a polícia iraquiana, comandada por xiitas, de apoiar as milícias que vêm atacando os sunitas. Um porta-voz do governo desmentiu as acusações, assegurando ter enviado reforços policiais para a área.

Segundo levantamento da agência Associated Press, 708 iraquianos foram mortos desde o início do mês. A média diária é de 44 assassinatos - em abril, o mês mais violento, a média foi de 27 mortes por dia. A violência sectária tem aumentado na mesma proporção. Em julho, o número de confrontos entre xiitas e sunitas foi dez vezes maior que em janeiro.