Título: Para mercado, Selic cai 0,5 ponto
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Economia, p. B3

Índices comportados de inflação e recuo do preço do petróleo permitem mais um corte, dizem analistas

Gustavo Freire

Para o mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortará os juros em 0,50 ponto porcentual na reunião de hoje e amanhã. Com isso, a taxa passará dos atuais 14,25% para 13,75% ao ano, segundo a pesquisa Focus, do Banco Central (BC).

'As surpresas positivas da inflação corrente e a queda dos preços do petróleo nos mercados internacionais ajudaram a preservar o espaço para um corte dessa magnitude', disse o economista-chefe da Corretora Concórdia, Elson Teles. Confirmada essa hipótese, será a 11º queda consecutiva de juros feita pelo Copom.

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de acordo com o economista da Concórdia, ficou 0,30 ponto porcentual abaixo do esperado pelo mercado nos meses de agosto e setembro. 'Com a inflação mais baixa, as expectativas para o índice do ano recuaram de 3,68% para 3% desde a reunião do Copom feita nos dias 29 e 30 de agosto.'

A redução permitiu, ao mesmo tempo, que ocorresse uma melhora das projeções do mercado financeiro para o IPCA de 2007. 'Com a inércia inflacionária menor, as expectativas de IPCA para o próximo ano recuaram de 4,50% para 4,20% desde a última reunião do Copom', disse. Para este ano, o mercado projeta um IPCA de 3%.

Os preços do petróleo no mercado externo, por sua vez, apresentaram redução de 15% a 16% desde a reunião do Copom realizada ao final de agosto. 'Ninguém esperava essa queda; foi algo inesperado', comentou.

Por isso, a probabilidade de ocorrer aumento no preço dos combustíveis neste ano foi reduzida a zero. 'A possibilidade de reajuste neste ano não existe mais', afirmou. Ou seja, foi afastado um fator que puxaria a inflação para cima.

PÉ NO FREIO

Apesar do cenário positivo para os preços, o economista-chefe da Concórdia acredita que o Copom começará a reduzir o ritmo de cortes dos juros na reunião de novembro, a última do ano. 'A taxa de juros já foi reduzida em 5,5 pontos porcentuais desde setembro do ano passado e o Copom precisa, agora, de tempo para analisar os efeitos desses cortes sobre a economia', disse.

Para Teles, a taxa deverá ser cortada em apenas 0,25 ponto porcentual no próximo mês e terminar o ano em 13,50%. Outro ponto destacado pelo economista é a queda da taxa real de juros. 'A taxa real foi reduzida entre 0,30 e 0,40 ponto porcentual desde a última reunião do Copom e já está abaixo dos 9%', disse.

A atividade econômica, de acordo com o economista-chefe da Concórdia, continua sem criar grandes pressões sobre o comportamento dos preços. 'Desde a última reunião do Copom, a atividade mostrou alguma recuperação. Mas os sinais ainda são muito fracos', comentou.

Em pesquisa divulgada ontem pelo BC, as próprias projeções do mercado financeiro para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano foram reduzidas pela segunda vez consecutiva e recuaram de 3,01% para 3%. A taxa de câmbio permaneceu praticamente estável desde a última reunião do Copom.

Última reunião do ano deve optar pelo mesmo corte

A combinação de inflação baixa com tímido crescimento econômico tem respaldado a previsão de que o Copom manterá o ritmo de recuo da taxa básica de juros (Selic). As previsões mostram integralmente o corte de 0,5 ponto na reunião que começa hoje e termina amanhã. A dúvida é a respeito dos próximos passos do Copom. Mas o mercado já começou a apostar em outro corte de 0,5 ponto percentual no juro na reunião de novembro. É preciso aguardar agora a divulgação do comunicado do Copom amanhã e, principalmente, pela ata da reunião, para o mercado decidir se pode ou não avançar na aposta de 0,5 ponto no mês que vem.

Diante desse quadro, analistas acreditam que os juros futuros não têm espaço para grandes oscilações hoje. 'A menos que surja uma grande surpresa, o mercado deve manter-se nesses níveis, porque os ajustes já foram feitos', afirma um operador. Hoje, a pesquisa Focus, do Banco Central, não trouxe novidades. Apenas confirmou a tendência das últimas semanas, de queda da inflação e desaceleração da economia. As projeções para o IPCA em 2006 recuaram de 3,01% para 3%, e para 2007 mantiveram-se em 4,20%. As estimativas para o PIB em 2006 também tiveram um ligeiro recuo, de 3,01% para 3%.