Título: Reservas chegam a US$ 74,9 bilhões
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2006, Economia, p. B5

Recorde foi atingido na sexta-feira da semana passada, após compra de dólares e emissão de US$ 300 milhões

Gustavo Freire

As reservas internacionais bateram recorde na sexta-feira passada, ao atingir a marca de US$ 74,954 bilhões. É o maior valor desde o início da série histórica do Banco Central, iniciada em dezembro de 1970.

O crescimento foi impulsionado pelas compras de dólares realizadas pelo Banco Central na terça-feira da semana passada e pela entrada dos US$ 300 milhões dos bônus em reais emitidos pelo Tesouro Nacional no mercado internacional. Só na sexta-feira, o nível das reservas subiu US$ 617 milhões.

Para o economista da Consultoria Tendências, Guilherme Loureiro, o Banco Central ainda tem espaço para continuar recompondo as reservas internacionais.

'É possível que as reservas cheguem ao fim do ano em cerca de US$ 80 bilhões', disse. Ele ressaltou, entretanto, que o custo de se continuar comprando dólares em mercado para recompor as reservas está ficando cada vez mais alto. 'O mais aconselhável agora é o BC não comprar mais que o fluxo de moeda estrangeira que entrar no País. O ideal será comprar um valor igual ou um pouco abaixo do fluxo.'

O problema das compras de dólares, segundo Loureiro, é que o BC é obrigado a emitir títulos da dívida pública para anular o efeito da entrada de reais provocada pela aquisição de moeda estrangeira. 'Isso acaba por prejudicar o lado fiscal e por anular o efeito positivo que o aumento das reservas tem sobre o risco país.'

Além de bater recorde, as reservas também estão num valor maior do que a dívida externa do setor público brasileiro, atualmente em US$ 74,8 bilhões. 'O governo tem espaço hoje para liquidar toda a dívida externa do setor público', comentou Loureiro.

Ele não acredita, entretanto, que isso será feito de forma abrupta. 'Por meio do programa de recompra da dívida externa, o Tesouro Nacional poderá reduzir a dívida de forma gradual.' Neste ano, o total de dívida já recomprada pelo Tesouro Nacional está em torno dos US$ 14 bilhões. 'Até o fim do ano, o total das recompras poderá chegar aos US$ 20 bilhões.'

Para 2007, o economista da Tendências acha que as reservas internacionais poderão crescer mais e terminar o ano em cerca de US$ 90 bilhões. 'É possível imaginar que as recompras de dívida externa no próximo ano fiquem em torno dos US$ 10 bilhões.'

Loureiro destacou, ao mesmo tempo, que o Banco Central não deve atuar no mercado com o intuito de afetar a taxa de câmbio. 'O que vai afetar a taxa de câmbio mesmo é a redução do diferencial de juros interno e externo e a própria reversão dos resultados da balança comercial.' Para ele, o crescimento das exportações tem ajudado a elevar a entrada de dinheiro estrangeiro no País e, conseqüentemente, a manter a taxa de câmbio valorizada.