Título: Uma noite em claro para evitar renúncia do relator
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2006, Nacional, p. A4

Os parlamentares da CPI dos Sanguessugas passaram a noite em claro, trocando ligações pelo celular, com medo de que o senador Amir Lando (PMDB-RO) renunciasse ao posto de relator e abrisse uma crise sem precedentes. A hipótese de desistência de Lando foi levantada pelo próprio vice-presidente da CPI, Raul Jungmann (PPS-PE).

No fim da noite de quarta-feira, ele ligou para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Os dois fizeram uma avaliação política e temeram pelo pior - que o senador não resistisse aos apelos dos caciques do PMDB para deixar gente graúda da legenda de fora da lista dos envolvidos na máfia dos sanguessugas.

"E se o Amir Lando renunciar?", perguntou Jungmann, apreensivo. "Isso aqui vai ser tranqüilo como a noite de São Bartolomeu", ironizou Gabeira, numa referência ao episódio sangrento da Revolução Francesa em que os protestantes foram massacrados.

Lando recebeu telefonemas do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador José Sarney (PMDB-AP), que exigiam que ele definisse o número de cassados e anunciasse logo sua decisão. Para atender aos dois, o relator pretendia enviar apenas o nome de 40 parlamentares para o Conselho de Ética, poupando outros 32, que teriam de passar por novas investigações.

Do outro lado, fazendo pressão por punição ampla, Gabeira, Jungmann e o presidente da CPI, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), se revezavam em ligações. Em reunião tensa entre Lando, Biscaia e os sub-relatores definiu-se que o número de denunciados seria de 72 parlamentares.

Pressionado, Lando resistia. "Pessoas estão me procurando em desespero. Temo que esse desespero se transforme e leve a uma conduta de violência", contou. No comando da pressão, o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), listado entre os envolvidos, disparou telefonemas para convencer os integrantes da CPI de sua suposta inocência.

"Você vai ter de escolher entre a morte e a vida", disse Gabeira. Lando optou pela sobrevivência política.