Título: CPI acusa 12% dos congressistas de integrar máfia das ambulâncias
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2006, Nacional, p. A4

Nunca tantos congressistas foram formalmente acusados de corrupção. A CPI dos Sanguessugas trabalhou rápido e, depois de apenas 52 dias de funcionamento, aprovou ontem relatório parcial que recomenda a abertura de processo de cassação contra 72 congressistas - 69 deputados e 3 senadores - acusados de envolvimento com o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras. Nesse universo de denunciados, 61 são candidatos nas eleições deste ano.

O escândalo deixa na berlinda 12% de todo o Congresso, que tem 513 deputados e 81 senadores. O relatório apresentado pelo senador Amir Lando (PMDB-RO) foi aprovado com o voto contrário de Wellington Salgado (PMDB-MG) e a abstenção de Sibá Machado (PT-AC), ambos seus colegas de Senado. Dos 90 parlamentares investigados pela CPI, 18 foram inocentados no relatório de Lando.

Em quase mil páginas, o parecer esmiúça a participação de cada um dos 90 parlamentares apontados por ligação com a máfia dos sanguessugas. Para Lando, que até o último instante insistia em dividir em grupos os congressistas conforme o grau de envolvimento, não há provas suficientes para pedir a cassação de todos os listados em seu relatório como integrantes do esquema dos sanguessugas.

"Mas não tínhamos como separar um do outro. O órgão competente para investigar o grau de envolvimento é o Conselho de Ética", explicou Lando. "Fiz um esforço hercúleo ouvindo o desespero de muitos parlamentares e todos os argumentos de defesa de cada um." O presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), comemorou a aprovação do relatório em um almoço com integrantes da comissão em uma churrascaria de Brasília. "Saio com a sensação de dever cumprido", disse.

Em uma sessão tranqüila, que durou cerca de três horas, o relatório parcial foi votado depois que Wellington Salgado (PMDB-MG) desistiu de pedir vista por uma semana, para analisá-lo melhor. "Não vou pedir para que o relatório não seja votado hoje porque a CPI já mostrou vontade de aprová-lo. Não é, no entanto, um relatório corajoso. Coragem seria tirar o nome daqueles contra os quais não há provas", argumentou Salgado, que falou em nome do PMDB. O líder do partido no Senado, Ney Suassuna (PB), é um dos 72 que responderão a processo por quebra de decoro no Conselho de Ética.

Nesse contingente, nada menos que 63 parlamentares são de partidos da base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso. O maior número de denunciados está no PL (18), PTB (16) e PP (13) - os três partidos foram os principais envolvidos no escândalo do mensalão.

Os partidos de oposição têm oito parlamentares acusados. Dos 18 inocentados, 11 são da base governista e 7 de partidos de oposição. No parecer, o relator explicita os crimes em que os parlamentares poderão ser enquadrados no Código Penal: concussão, corrupção passiva, condescendência criminosa, advocacia administrativa, exploração de prestígio e corrupção ativa.

O esquema das ambulâncias foi desmontado no início de maio pela Operação Sanguessuga da Polícia Federal - 47 acusados foram presos. Na ocasião, a PF revelou a existência de pelo menos 90 parlamentares envolvidos na fraude, suspeitos de apresentar emendas ao orçamento para beneficiar o esquema em troca de propina. A máfia teria desviado R$ 110 milhões. Em junho, o Congresso decidiu abrir a CPI para investigar o escândalo.