Título: Estudantes de RO farão ato contra corrupção
Autor: Mariângela Gallucci, BRASÍLIA
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2006, Nacional, p. A9

As entidades estudantis de Rondônia convocaram para hoje uma grande manifestação no centro de Porto Velho contra a corrupção no alto escalão dos três Poderes do Estado. Encabeçam a convocação a União Estadual dos Estudantes (UEE) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Outros grupos ligados a movimentos sociais devem aderir ao ato.

Os órgãos de segurança foram postos de sobreaviso ante o risco de distúrbios de rua. No último protesto desse tipo, há um ano, houve confronto com a polícia na frente da Assembléia Legislativa, onde funcionaria o núcleo da quadrilha, desmantelada há uma semana pela Operação Dominó, da Polícia Federal. "Não basta cassar mandatos, queremos a prisão de todos os corruptos e o confisco dos seus bens para reparação dos danos ao erário", disse o presidente da UEE, Dadson Bueno.

Ontem, a PF fechou os dados da folha salarial fantasma que deputados usariam para desviar dinheiro na Assembléia. Há provas de envolvimento de 22 dos 24 parlamentares. Dos restantes, Néri Firigolo (PT) já foi inocentado. Chico Paraíba (PMDB) ainda é investigado, pois as provas são consideradas inconsistentes.

A folha paralela tem 632 nomes de funcionários fantasmas ou laranjas, inseridos pelos deputados, que recebiam o dinheiro em suas contas, ou nas de suas empresas, assessores ou parentes. Havia salários baixos, mas na média variavam de R$ 2,5 mil a R$ 12 mil. Juntos, custavam cerca de R$ 1 milhão por mês à Assembléia. Em um ano, o desvio foi de cerca de R$ 15 milhões, por causa do 13º salário e outros encargos. "Os fantasmas tinham até direitos sociais", ironizou o superintendente da PF em Rondônia, Joaquim Mesquita.

A fraude veio à tona, segundo ele, porque o INSS entrou na Justiça para receber a contribuição previdenciária desses servidores. A Assembléia mandou cobrar a conta do Executivo, mas o governador Ivo Cassol (PPS) se recusou a pagar.

Os fraudadores ainda tomavam empréstimos consignados em nome dos fantasmas. Quatro bancos são investigados sob suspeita de terem facilitado esse desvio, que chega a R$ 7,3 milhões.

As fraudes, segundo a PF, incluíam superfaturamento de obras, pagamento de serviços não realizados e emissão de passagens áreas para parentes. Uma empresa de factoring lavava os recursos da quadrilha. O rombo é calculado em R$ 70 milhões até agora. O Judiciário, o Tribunal de Contas e a Procuradoria de Justiça entravam no esquema para dar cobertura aos crimes, trancar processos ou evitar e revogar a prisão dos envolvidos.