Título: CPI começa a ouvir ex-ministros da Saúde hoje
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2006, Nacional, p. A7

Passadas as eleições, três ex-ministros da Saúde - Barjas Negri (PSDB), Humberto Costa (PT) e Saraiva Felipe (PMDB) - confirmaram suas presenças hoje e amanhã na CPI dos Sanguessugas para dar depoimentos. O governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), é o único dos quatro ex-ministros convidados pela comissão que não vai comparecer.

Serra está em Washington (EUA) para renegociar empréstimos para a construção do Metrô de São Paulo. A previsão é que o governador eleito retorne ao Brasil só na semana que vem, no dia 15.

'Não tem motivo para ele ir à CPI. Ele não tem nada a acrescentar', justificou ontem o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior (BA). 'Serra pode até ir à CPI. Mas só depois que o Mercadante e o Lula comparecerem', afirmou.

'O Mercadante porque teve um assessor seu envolvido diretamente na história do dossiê contra os tucanos. O presidente Lula porque tem muitos amigos envolvidos nessa história', completou Jutahy. O assessor a que ele se referiu é Hamilton Lacerda, que foi coordenador de Comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo.

A Polícia Federal acredita que Lacerda teria levado para os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha o R$ 1,75 milhão destinado a comprar o dossiê Vedoin, que teria documentos comprometendo políticos tucanos com o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras com recursos de emendas parlamentares ao Orçamento da União. Gedimar e Valdebran foram presos com o dinheiro no Hotel Ibis Congonhas em 15 de setembro. No dia anterior, Lacerda foi flagrado pelas câmeras do hotel com uma mala. Ele garante, porém, que não levava dinheiro nessa mala e sim um laptop e material de campanha.

Atualmente prefeito de Piracicaba, Barjas Negri foi sucessor de Serra no Ministério da Saúde, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. No auge da campanha eleitoral, Lula chegou a citar Barjas como envolvido com o esquema durante um debate com o candidato derrotado à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB).

O prefeito tucano confirmou seu depoimento à CPI para hoje à tarde. Sua decisão contrariou alguns correligionários, para quem ele não deveria comparecer à comissão.

Humberto Costa, que foi derrotado na disputa pelo governo de Pernambuco, se comprometeu a depor amanhã de manhã. O deputado Saraiva Felipe (PMDB) vai falar amanhã à tarde. Costa e Felipe foram ministros do governo Lula.

ESQUEMA

Os quatro ex-ministros foram convidados para ir à comissão e não são obrigados a comparecer. Com seu depoimento, a CPI pretende esclarecer as denúncias de envolvimento de funcionários do Ministério da Saúde com o esquema de superfaturamento das ambulâncias.

O esquema teria começado em 1999, com o envolvimento de integrantes do Ministério da Saúde e de parlamentares, que receberiam propina em troca da apresentação de emendas ao Orçamento com recursos para as ambulâncias. Os veículo seriam vendidos pela Planam, de Luiz Antônio e Darci Vedoin, principal empresa da máfia dos sanguessugas.

Pelo cronograma da CPI, os depoimentos de Gedimar Passos, Valdebran Padilha e Jorge Lorenzetti, outro acusado de envolvimento na tentativa de compra do dossiê Vedoin, ficaram para 21 de novembro.

No dia seguinte, os integrantes da CPI pretendem ouvir os depoimentos de Oswaldo Bargas e Expedito Veloso, ex-integrantes do comitê de campanha do presidente Lula, que também estariam envolvidos na compra do dossiê.