Título: Brasil fica em 70º no ranking da corrupção
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2006, Nacional, p. A8

Os escândalos do mensalão, do valerioduto, da máfia dos sanguessugas, entre muitos outros, custaram caro à imagem do Brasil no exterior. Pesquisa divulgada ontem pela ONG Transparência Internacional mostra que o País teve uma 'piora significativa' no nível de percepção de corrupção. Na pesquisa passada, o Brasil ficou em 62º lugar em uma lista de 159 países. Agora, caiu para 70º em 163 nações pesquisadas.

Em 2005, o Brasil teve nota 3,7 no índice de percepção da corrupção, medido a partir de pesquisas feitas com pessoas que têm ligação direta ou indireta com negócios internacionais. Em 2006, com a maior repercussão das denúncias envolvendo integrantes do governo, parlamentares e partidos políticos, o País caiu para 3,3 na avaliação geral.

Para fazer o ranking mundial, a Transparência Internacional usa como base de dados várias pesquisas feitas em diferentes países por instituições como o Banco Mundial, o Fórum Econômico Mundial e agências de avaliação de risco. A pontuação vai de zero (pior situação) a dez (situação ideal).

'É difícil não atribuir em boa medida a deterioração no índice à repercussão internacional dos escândalos que afetaram o governo no período recente', diz análise do ranking feita pela ONG Transparência Brasil. 'Não se sabe como a opinião das pessoas é formada. O Brasil se destacou mais pelos escândalos do que pelas melhorias', resume o diretor-executivo da ONG brasileira, Claudio Weber Abramo.

O Brasil divide o 70º lugar com China, Egito, Gana, Índia, México, Peru, Arábia Saudita e Senegal. 'Conforme a Transparência Internacional, o movimento do Brasil no índice deste ano correspondeu a real deterioração da imagem do País, e não a um efeito numérico', ressalta a análise da ONG brasileira.

O pior desempenho na lista dos países percebidos como mais corruptos é do Haiti (nota 1,8). Logo em seguida, vem o Iraque (1,9), dominado pela violência desde a ocupação pelos Estados Unidos, há três anos, que divide o 160º lugar com Mianmá e Guiné.

Entre as nações percebidas como menos corruptas, estão empatadas Finlândia, Islândia e Nova Zelândia, com 9,6 pontos.

FOTO SIMBÓLICA

No portal da Transparência Internacional, uma fotografia feita no Brasil ilustra o relatório dos corruptos: uma pichação que ironiza o mensalão e a prisão do assessor petista Adalberto Vieira da Silva, flagrado com US$ 100 mil e R$ 200 mil, em dinheiro vivo, escondidos na cueca e em uma bolsa de viagem.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, reagiu ontem à pesquisa da Transparência Internacional. 'Não acredito que houve aumento da corrupção. Houve diminuição da impunidade e aumento do combate à corrupção', declarou ele. 'Houve, isto sim, aumento da publicidade da corrupção. Creio que este é o sentido do relatório.'

O controlador-geral da União, Jorge Hage, disse não ter se surpreendido com o aumento na percepção de corrupção, 'após um ano de campanha eleitoral em que o governo foi acusado diuturnamente pelos opositores nas tribunas do Congresso, na mídia toda e nos programas eleitorais'.