Título: Entidades de defesa do rio vão contestar medida
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2006, Nacional, p. A10

Ao mesmo tempo em que o governo procura alternativas para levar adiante o projeto de transposição do Rio São Francisco, as organizações contrárias à iniciativa se articulam para barrá-lo. Na sexta-feira, os integrantes do Fórum de Defesa do São Francisco se reunirão em Salvador para analisar a mudança que o governo pretende fazer no processo de licitação da obra e definir sua reação.

Também em Salvador, a promotora Luciana Khoury, da Coordenadoria Interestadual das Promotorias do São Francisco, se prepara para contestar a mudança na licitação. Ela lembrou ontem que, entre outros processos, a transposição foi barrada na Justiça Federal por força de liminar concedida a uma ação civil pública, segundo a qual o Ibama agiu ilegalmente ao conceder a autorização ambiental para a obra.

'Com o caso sob julgamento, o governo não pode fazer licitação nem para contratação do projeto executivo', argumentou a promotora. 'E se a obra for embargada? Quem repõe o dinheiro gasto?'

Segundo os críticos da transposição, o governo deveria em primeiro lugar cuidar da recuperação do São Francisco. 'O rio está poluído e passa por um processo de assoreamento, devido ao desmatamento das margens', disse Luís Carlos Mandela, integrante da Cáritas do Brasil e assessor do Programa de Convivência com o Semi-Árido.

A Cáritas, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), faz parte de um conjunto de quase 800 organizações contrárias à obra. De acordo com Mandela, existem estudos demonstrando que é possível resolver o problema de abastecimento de água no semi-árido com projetos mais baratos e mais eficientes.

'O governo não está preocupado com a falta de água para o povo nem com a pequena agricultura', afirmou Mandela. 'Ele quer atender aos grandes empresários do agronegócio, que precisam da água para produzir camarões e frutas de exportação, e às construtoras.'