Título: Desfecho da eleição promete ser dramático
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2006, Internacional, p. A11

É uma das principais regras da cartilha política de Karl Rove, o grande estrategista do Partido Republicano: jamais deixe que percebam que você está suando. Dias antes da apertada eleição de 2000, os repórteres que cobriam a campanha viram um animado Rove fazendo papel de garçom no café da manhã, brandindo um bule de café com um floreio exagerado e uma previsão ainda mais exagerada: George W. Bush conquistaria a Casa Branca tranqüilamente.

Às vésperas da eleição que acontece hoje, Rove repetiu o comportamento - prevendo que os republicanos surpreenderão os analistas e manterão o controle da Câmara e do Senado. Bush diz o mesmo. Rove errou em 2000, quando Bush venceu no colégio eleitoral, mas obteve menos votos que o democrata Al Gore. Há fortes sinais de que não se sairá muito melhor desta vez, não importa o quanto se esforce para assustar os democratas e animar os amedrontados republicanos.

Os democratas estão em posição de recuperar a Câmara pela primeira vez desde 1994. Analistas apontam indícios de que eles podem conquistar também o Senado, à medida que algumas disputas em aberto pendem a favor dos democratas.

Uma vitória democrata em qualquer uma das Casas será dramática, sinalizando forte insatisfação do eleitorado com o rumo da guerra no Iraque e contrabalançando o poder monopartidário em Washington, ao preço provável do impasse legislativo. A conquista de ambas as Casas apressará a transformação de Bush num presidente de malas prontas para deixar o poder.

TRABALHO DURO

Jack Pitney, cientista político do Claremont McKenna College, na Califórnia, afirma: 'Bush terá de trabalhar muito, muito duro para obter ajuda do Congresso, independentemente do que acontecer nesta terça-feira.'

Na sexta-feira passada, esperava-se uma noite tão ruim para os republicanos que um importante analista discutia se ocorreria um 'tsunami' ou apenas um 'furacão'. Bush, abalado nas pesquisas, só pôde mostrar a cara, na semana passada, em Estados onde venceu em 2004. A eleição se transformou num referendo sobre o presidente e a guerra no Iraque, que agora é considerada um erro por mais da metade dos eleitores, segundo as pesquisas. O Congresso republicano - acossado pelo escândalo sexual de Mark Foley, entre outros - está ainda pior, aprovado por apenas um em cada quatro eleitores.

Isso significa que os eleitores estão hoje mais desiludidos com o Congresso do que em qualquer outro momento desde 1994, quando os republicanos puseram fim a 40 anos de maioria democrata na Câmara, conquistando 52 cadeiras e iniciando sua revolução no Capitólio. Os democratas precisam de apenas 15 cadeiras para obter a maioria .

Um estrategista republicano questionou a noção de uma onda nacional, mas teme que 'pequenas ondas' atinjam Estados específicos onde os republicanos se saem pior, como Indiana e Ohio. Sete vitórias apenas nesses Estados já deixam os democratas a meio caminho da maioria. Somando-se a isso vitórias nos amigáveis Estados da Pensilvânia, Connecticut e Nova York, os democratas têm à mão um bloco eleitoral no norte e na Nova Inglaterra para servir de contrapeso ao sul republicano.

Assim, por que Rove está sorrindo?

Seus amigos dizem que ele acredita em sua previsão, baseada na fé nos esforços dos republicanos para mobilizar seus eleitores e nos montes de dados de pesquisas do partido, atualizados de hora em hora.

'Ele está vendo coisas que não vemos', disse Mark McKinnon, ex-conselheiro de mídia de Bush que agora integra a Hotsoup.com, uma comunidade política online.

O Partido Republicano certamente está contando com o intenso esforço feito nas últimas 72 horas para levar seus eleitores às urnas. Rove disse a colaboradores que o partido fez contato com mais eleitores neste ano do que em 2004 - algo fundamental em eleições que não são presidenciais, quando o índice de participação cai dramaticamente.

Além disso, até os democratas dizem que é difícil derrotar os republicanos, mais ainda que em 1994, com distritos hoje propensos a favorecer os ocupantes das cadeiras.

Mesmo com sinais de uma onda democrata, pequena ou não, os estrategistas se preparam para uma disputa acirrada - com apurações sempre apertadas, adiamentos por causa de votos provisórios e de eleitores ausentes e até mesmo possíveis ações judiciais que poderiam criar suspense na noite eleitoral. 'Costumo dizer que, nesta eleição, os advogados estão de prontidão', brinca a analista política Jennifer Duffy.