Título: Após negociação, brigadeiro fica
Autor: Tânia Monteiro João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2006, Cidades, p. C3

Depois do caos nos aeroportos nos últimos dias, que chegou a ganhar ares de crise militar e pôs em risco o cargo do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, a segunda-feira terminou tranqüila em Brasília. Após um dia de intensas negociações, o governo acertou a permanência de Bueno no cargo. Hoje ele será recebido em audiência pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um sinal de prestígio.

Ontem, Bueno telefonou para o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, acertando os ponteiros para a reunião que tratará da nova carreira dos controladores de vôo. O brigadeiro teve assegurada presença no encontro, a ser realizado possivelmente amanhã. No início da tarde, reuniu-se com o ministro da Defesa, Waldir Pires. Em seguida, Pires foi ao Planalto, para conversar com Lula. Mais tarde, o ministro da Defesa disse que 'não tem divergência' com Bueno e o comandante conta com a sua confiança e a do presidente. Enquanto isso, Bueno, que convocara uma reunião de Alto Comando da Aeronáutica para tratar de mobilização de recursos e meios para melhorar as condições do controle do tráfego aéreo, informou aos seus colegas que ficaria no posto.

O primeiro passo para tudo ficar como está foi o sucesso da operação montada por Bueno, convocando controladores para uma força-tarefa, a fim de garantir o pleno funcionamento dos pousos e decolagens no feriado. Para evitar novas surpresas, o brigadeiro está convocando outros operadores, de outras pontos do País, para serem transferidos para Brasília, além dos 15 que já começaram a trabalhar ontem.

Lula, por sua vez, ficou satisfeito com o desfecho da crise. Ontem, na reunião de coordenação política, estava bem mais descontraído do que antes do feriado - ele chegou a dar socos na mesa e cobrou soluções enérgicas para o apagão aéreo numa reunião realizada na quarta-feira. Lula relegou a segundo plano o mal-estar ocorrido entre Bueno e Pires por causa da interferência na crise do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, todas determinadas por ele. Preferiu atribuí-lo a 'intrigas'. Dilma, a mais irritada com o caos da semana passada, não esteve ontem no Planalto, acometida de forte gripe.

Por isso mesmo, ainda não está fechada a data da reunião de integrantes do governo com representantes dos controladores e outros ministros, prevista para hoje. Um grupo de trabalho está sendo criado para discutir a formação da nova carreira, mas o ministro do Trabalho insiste que não será possível empurrar com a barriga a discussão, senão ele perderá a credibilidade na negociação com os controladores - Marinho e Pires participaram na quinta-feira de uma reunião com a categoria. Ontem, Marinho elogiou Bueno e disse que a volta à normalidade nos aeroportos foi fruto de ação conjunta de todos, incluindo o brigadeiro. Disse que não há divisão no governo entre civis e militares, porque todos estão trabalhando pelo País.

Sobre a desmilitarização da área de controle de vôo, Marinho garantiu que Bueno será chamado a participar da discussão, e todos opinarão, mas essa será uma decisão de governo. O ministro admitiu que a desmilitarização da área provoca polêmica, repetindo o argumento sempre lembrado na área militar: países como Estados Unidos e Espanha, que adotaram sistemas civis, estão revendo essa política.

O próprio ministro da Defesa, que estava defendendo a passagem do controle de tráfego aéreo para os civis, explicou ontem que apóia a criação de uma carreira civil de operador de vôo e ela será estudada. Reiterou também que o governo estuda a concessão de uma gratificação para a categoria, mas ainda não há nem porcentual nem a base de cálculo do benefício.

A gratificação preocupa os militares, porque ela tornará o salário dos sargentos mais alto que o dos oficiais com postos superiores a eles, o que criaria um conflito hierárquico. Mas, como nesse momento todos estão colocando panos quentes em tudo para abafar a crise, a tendência é a Aeronáutica não vetar a proposta de Pires, negociando um porcentual.