Título: Indústria deve ser a maior prejudicada pelo aumento
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2006, Economia, p. B1

A proposta de aumento no preço do gás para conter a expansão do consumo representa mudança radical na política vigente no setor nos últimos anos. Desde o início da década, o produto vem recebendo incentivos, dentro de uma política governamental para ampliar sua participação na matriz energética nacional.

Entre 2003 e 2005, a Petrobrás manteve congelados os preços do gás importado da Bolívia, com o objetivo de encher o Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) e evitar prejuízos por trazer menos gás do que o contratado junto ao país vizinho.

'Está faltando uma política estratégica, de longo prazo, para o gás natural', diz o presidente da Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Romero Oliveira. 'E agora, como ficam os consumidores que converteram veículos ou equipamentos residenciais para o gás?', questiona o secretário de energia, indústria naval e petróleo do Estado do Rio, Wagner Victer. Há hoje no Brasil mais de 1,2 milhão de veículos movidos a gás natural veicular, cujos proprietários investiram uma média de R$ 2,5 mil para usar o novo combustível.

Para especialistas, porém, a indústria deve ser a maior prejudicada com aumentos de preços do gás. A diferença em relação à gasolina deve permanecer grande e o consumidor residencial, que usa o gás como substituto da energia elétrica, também manterá vantagem competitiva.

Já os consumidores industriais, que representam cerca de metade do mercado, precisam de investimentos maiores para voltar a usar derivados de petróleo.

Os descontos sobre o preço do gás boliviano foram retirados em meados de 2005, quando o cenário já apontava aperto entre oferta e demanda.

O Brasil consome cerca de 42 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. Desse total, metade é produzida no País e metade importada da Bolívia.