Título: UE e Mercosul negociam por pacote
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/11/2006, Economia, p. B3

Mercosul e União Européia (UE) decidiram, em reunião realizada ontem, que a negociação do acordo comercial entre os dois blocos será por pacote, com todos os setores juntos, e não isoladamente. Com isso, retomaram as propostas de pacotes apresentadas em março pelo Mercosul e em abril pelos europeus.

Esse tipo de negociação significa que o maior acesso dos produtos agrícolas brasileiros ao mercado europeu, por exemplo, pode ser trocado pelo acesso dos europeus ao mercado de serviços ou industriais.

O chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty e da delegação brasileira na reunião, Régis Arslanian, considerou produtiva a reunião de ontem, que continua hoje com expectativas de mais avanços. 'Quando se quer chegar a proposta final, é melhor chegar a um pacote', disse. 'Quando se troca oferta por envelope, por e-mail, você não sabe o que o outro vai ofertar, então, reduz a ambição. No pacote é tudo aberto: 'te dou isso, me dá aquilo'', disse Arslanian.

A reunião no Palácio Itamaraty, no Rio, com a presença de delegações de cada país do Mercosul, incluiu temas mais específicos, como as condicionalidades que, segundo Arslanian, 'inviabilizam as cotas' de exportação para a UE.

O que o Mercosul espera é que a Europa pelo menos dê sinais se poderá caminhar na direção da proposta feita pelo bloco sul-americano há quase oito meses. O Mercosul pediu que cotas fossem estabelecidas para que exportem, por exemplo, 250 mil toneladas de carne de frango e 300 mil toneladas de bovina por ano sem tarifas. A resposta dos europeus, segundo a missão do Brasil em Bruxelas, foi 'insatisfatória' e o processo voltou a ficar parado.

O representante brasileiro observou que a delegação européia, chefiada pelo negociador-chefe para o Mercosul, Karl Falkenberg, fez diversas perguntas sobre a Venezuela. 'Nenhum receio (do governo venezuelano). Estavam falando da Venezuela como um mercado importante.'

Arslanian informou também que na reunião não se discutiu a Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC), que está interrompida. 'As negociações bilaterais que estamos fazendo com a Sacu (União Aduaneira da África do Sul) e com a Índia, todas estão sendo feitas independentemente de Doha', afirmou.

ATRASO

Um acordo entre os dois blocos deveria ter sido concluído em outubro de 2004. Mas temas como a abertura do mercado agrícola da Europa e a liberalização do Mercosul para bens industriais e serviços não conseguiram ser fechados. Desde então, quase nenhum movimento foi feito, ainda que em 2005 a diplomacia brasileira tenha comemorado o fato de que um calendário das negociações tivesse sido fechado pelos ministros. A agenda, porém, nunca foi cumprida.

Agora, com a paralisia do processo na OMC, os europeus admitem que precisam buscar por meio de acordos bilaterais o acesso a mercados como o do Brasil. A nova política comercial de Bruxelas deixa explícito que o caminho para esses acordos seria reforçado, inclusive com novos países, como a Índia.

FRASES

Regis Arslanian Chefe das Negociações Internacionais do Itamaraty

'Quando se quer chegar à proposta final, é melhor chegar a um pacote'

'Quando se troca oferta por envelope, por e-mail, você não sabe o que o outro vai ofertar, então reduz a ambição. No pacote é tudo aberto: Te dou isso, me dá aquilo'M