Título: Ratzinger teria silenciado casos de pedofilia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Vida&, p. A9

Um documentário da BBC que deveria ser exibido ontem à noite na TV aberta da Grã-Bretanha afirma que o cardeal Joseph Ratzinger ¿ desde abril do ano passado papa Bento XVI ¿ desempenhou papel importante na ocultação sistemática de casos de abuso sexual contra menores cometidos por padres católicos, informa o site da BBC em português.

Sexo, Crimes e o Vaticano, realizado especialmente para o programa de reportagens Panorama, colheu evidências nos Estados Unidos, no Brasil e em Roma (Itália).

Um dos pontos altos da reportagem é a apresentação de um documento interno da Igreja, editado em 1962. Nele, há instruções detalhadas para bispos sobre como lidar com acusações de abusos sexuais cometidos por padres em sua jurisdição. O manual também impõe um juramento em que vítima, acusado e testemunhas se comprometem a manter sigilo absoluto sobre o caso, sob pena de excomunhão.

Durante mais de 20 anos, o homem encarregado de zelar pela obediência a essas diretrizes foi o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé nomeado por João Paulo II em 1981. O documento foi distribuído a bispos de todo o mundo, com ordem para que fosse arquivado a sete chaves, diz a BBC.

A reportagem é conduzida por Colm O¿Gorman, que quando tinha 14 anos de idade foi estuprado por um padre católico. O programa localizou sete clérigos acusados de abusos contra menores vivendo no Vaticano ou em seus arredores. Um deles, o padre Joseph Henn, foi indiciado nos Estados Unidos por 13 acusações de abuso de menores. Durante as filmagens, O¿Gorman descobriu que Henn administrava pedidos de extradição do escritório de sua ordem religiosa no Vaticano.

A produção do documentário começou em março de 2002. A BBC afirma que o Vaticano recusou vários pedidos para que fossem respondidos casos apresentados no filme. Só nos EUA, cerca de 4 mil padres foram acusados de abusos sexuais contra 10 mil jovens.