Título: Bolívia vê eleições com interesse
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Economia, p. B5

A Bolívia observa com atenção as eleições no Brasil - onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem grande chance de se reeleger -, tendo como pano de fundo o tema das negociações sobre o preço do gás natural e as relações com a Petrobrás.

As compras brasileiras de gás natural, com volumes em média de 25 milhões de metros cúbicos diários, representaram no ano passado para a Bolívia cerca de US$ 578 milhões. O Brasil importa da Bolívia a metade do gás que consome a US$ 4 por milhão de BTU (unidade térmica britânica).

Segundo analistas locais, uma eventual reeleição de Lula não significará uma alteração da política brasileira energética em relação ao país, enroscado em uma árdua negociação com a Petrobrás em torno de preços e contratos, depois da nacionalização dos hidrocarbonetos em maio.

Independentemente do governante que o País eleja , 'não acredito que sua política comercial esteja ligada ao presidente da República, eles têm instituições muito mais avançadas', disse o ex-ministro de Hidrocarbonetos Mauricio Medinacelli, ao jornal La Prensa, de La Paz.

Na mesma linha, o economista Rolando Jordán, estimou que 'a posição de Lula é clara, poderá ser muito de esquerda, mas em primeiro lugar ele é brasileiro e vai defender os interesses da Petrobrás na Bolívia. Isto está claro e deveria nos ensinar que onde há negócios não há amizades'.

O presidente Evo Morales acalenta a esperança de que com Lula, com quem tem afinidades políticas de esquerda, poderá chegar a um entendimento a respeito da nacionalização dos hidrocarbonetos, como declarou em várias ocasiões.

QUESTÃO TÉCNICA

Especialista em assuntos petrolíferos, Hugo del Granado, insistiu também para que Evo 'retome as negociações (com o Brasil) no âmbito técnico e não político, de tal maneira que a reeleição não tenha nada a ver com as negociações'.

Uma missão brasileira de alto nível, encabeçada pelo ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, tem previsão de chegar a La Paz no dia 9 para prosseguir as discussões sobre os novos contratos, paralisadas no meio de setembro pela decisão boliviana de tomar o controle das refinaria administradas pela Petrobrás.

La Paz se viu obrigada a suspender essa medida para retomar as árduas negociações com Brasília. As duas refinarias, situadas em Cochabamba e Santa Cruz, produzem 40 mil barris diários e asseguram 100% de capacidade de refinação da Bolívia, segundo a Petrobrás. Também abastecem 25% do mercado boliviano de gasolina, diesel e o gás.

O preço do gás que o Brasil importa da Bolívia, por meio da Petrobrás, é um ponto chave das negociações. La Paz quer um aumento de 80% a 100% do preço de US$ 4 por milhão de BTU que obtém da venda ao Brasil. Mas a Petrobrás quer que o contrato atual, com revisões de preços periódicas e fixadas com base em uma cesta de combustíveis, seja vigente até 2019.

A estatal brasileira gerencia os megacampos de San Alberto e San Antonio, os maiores do país, ainda que seus contratos devam adequar-se até 1º de novembro ao decreto que nacionalizou os hidrocarbonetos.