Título: Saldo pode ser menor em 2007, mas BC está otimista
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Economia, p. B6

As incertezas no cenário mundial e na economia brasileira não impediram o Banco Central de cravar uma estimativa positiva para o comércio do País com o exterior em 2007 - um superávit de US$ 30 bilhões, mesmo com um crescimento previsto de 21% nas importações e uma expansão de apenas 6% nas vendas externas. Embora os números do BC não sejam substancialmente postos em dúvida pelos analistas, eles observam que, ao contrário do que sustenta o governo, esse resultado, em particular o aumento das importações, não terá como causa um crescimento mais satisfatório da economia no próximo ano.

Ao divulgar a Nota do Setor Externo, no dia 21, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, anunciou as projeções de exportações de US$ 132 bilhões, em 2006, e de US$ 140 bilhões, em 2007.

As importações passariam de US$ 91 bilhões para US$ 110 bilhões. Com isso, o superávit comercial cairia bilhões - de US$ 41 bilhões, neste ano, para US$ 30 bilhões.

A redução do saldo comercial não preocupa o governo, especialmente o BC, que se alimenta da controversa teoria de que o aumento das importações seria uma conseqüência direta do maior crescimento da economia. Em 2005, entretanto, as compras externas expandiram apenas 2,4% na atividade econômica do País. Neste ano, o próprio BC estima aumento de 23,8% nas importações, em um cenário frustrante de elevação de 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB).

'A perspetiva de aumento de 21% nas importações em 2007 não indica que a economia vai crescer mais. Apenas reforça a tendência de substituição de fornecedores nacionais de insumos e bens intermediários para a indústria por competidores estrangeiros', avalia Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto Estudos de Desenvolvimento para a Indústria (Iedi), que concorda com a perspectiva de superávit comercial menor no ano que vem.

A Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) tampouco acredita na hipótese de crescimento satisfatório da economia. Segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, o investimento produtivo continua medíocre em função da insegurança sobre a expansão da demanda interna. Apesar de haver mais linhas de crédito, a inadimplência aumenta. A geração de empregos, completa ele, está concentrada nos setores de energia e sucroalcooleiro. Esse cenário afeta o desempenho das importações.

Entretanto, a projeção do BC de que as importações terão aceleração bem maior que as exportações, em 2007, reflete seu desejo de que o PIB tenha uma expansão mais robusta. O BC ainda não divulgou estimativas sobre o crescimento da economia no próximo ano. 'Trabalhamos com a continuidade do ritmo de importações de bens de capital, de matérias-primas e de bens de consumo duráveis e com o crescimento da economia', diz Lopes.

Assim como o Iedi, a AEB não se arrisca a calcular projeções para 2007. Primeiro, porque há consenso de que a economia americana vai desacelerar. Segundo, porque não há nenhuma idéia de como se comportarão os preços do petróleo no mercado internacional e se, de fato, as cotações da commodities despencarão.

A terceira incerteza diz respeito a uma questão interna delicada e suscetível aos resultados das eleições de hoje - a taxa de câmbio.