Título: Começa resgate das 155 vítimas do vôo 1907
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Metrópole, p. C1

Equipes da Força Aérea Brasileira e do Exército conseguiram ontem remover os dois primeiros corpos das vítimas do acidente envolvendo o Boeing 737-800 do vôo 1907 da Gol, que caiu com 155 pessoas a bordo na sexta-feira, no trajeto entre Manaus e Rio. A identificação começará a ser feita na Base Aérea de Cachimbo, no Pará, mas os trabalhos podem ser estendidos a Cuiabá (MT) e Brasília (DF), nos casos em que for necessário exame de DNA. Ontem, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou que houve uma colisão entre o avião e o jato Legacy, fabricado pela Embraer.

Segundo a diretora da Anac Denise Abreu, técnicos da comissão que apura as causas do acidente chegaram a essa conclusão depois de começar a ouvir o conteúdo das duas caixas-pretas do Legacy, que estão em São José dos Campos (SP), sede da Embraer. 'As informações dessas caixas precisam ser cruzadas com as caixas-pretas do Boeing, que ainda não foram recuperadas. O que dá para afirmar até agora é que houve uma colisão', disse ela.

É a primeira vez que a Anac se refere ao acidente como um choque entre aviões. Antes, tratava essa hipótese como 'especulação'. Apenas o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, admitia essa possibilidade desde o sábado.

A hipótese de colisão é reforçada por depoimentos de testemunhas do desastre aéreo, o maior já registrado no País. Um funcionário da Fazenda Jarinã, usada como base de operações, contou ao gerente da propriedade, Nilton Bicalho, que ouviu 'um grande estrondo'. Em seguida, viu o avião da Gol 'se movimentando bruscamente, rodopiando e despencando'.

Imagens divulgadas ontem pela FAB mostram o Boeing de cabeça para baixo, com o dorso, onde fica o trem de pouso, para cima. Isso indicaria que o avião deu pelo menos uma cambalhota, antes de atingir o chão. O Legacy, por sua vez, perdeu parte da asa esquerda e do leme.

A Anac vê chances mínimas de se encontrar algum ocupante do Boeing vivo. 'É basicamente impossível afirmar que haja sobreviventes, mas ainda não há laudo oficial, pois sempre existe a possibilidade de um milagre', disse Denise.

São três as questões que intrigam os peritos da Aeronáutica para explicar as causas do acidente. Eles precisam saber o que levou a tripulação do Legacy a mudar de rota, o motivo pelo qual ela não respondeu aos alertas por rádio feitos pelo operadores do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta-1) e porque os equipamentos anticolisão dos aviões, conhecidos como TCAS, não deram o alerta.

Em Brasília, um grupo de 30 parentes e amigos das vítimas fizeram um protesto no aeroporto, revoltadas com a falta de informações sobre as buscas.

Eduardo Lleras, que foi até a Serra do Cachimbo em busca de informações sobre a mulher, o filho e o neto, que embarcaram no vôo 1907, teria sido orientado a providenciar o velório dos parentes, contou sua sobrinha, Janayna Leite. Ela está em Londrina (PR), repassando as informações à família.