Título: Boeing pode ter caído na vertical
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Metrópole, p. C4

A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) já tem uma idéia de como pode ter acontecido o acidente entre o Boeing 737-800 da Gol e o jato Legacy Next Generation. As investigações estão no início. Não há, portanto, como reconstruir a cena da tragédia, mas, considerados os indícios preliminares, o Legacy deve ter atingido o avião da Gol na seção traseira, na altura da cauda. 'No choque, o jato teria acertado o profundor e o estabilizador horizontal do avião', disse o brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero. 'Sem essas peças, o piloto perde o controle do aparelho, que cai de bico, no sentido vertical.'

O profundor e o estabilizador compõem o leme, determinando a posição da proa do avião. O Legacy pousou na Base Aérea do Cachimbo, no Pará, praticamente intacto. Sofreu uma pequena avaria no winglet, uma extensão da asa. O jatinho pegou o Boeing de raspão. Mas acredita-se que o Legacy tenha atingido uma parte vital do comando do aparelho. 'Provavelmente pegou o sistema elétrico e hidráulico do estabilizador', afirmou o brigadeiro. No ar, o sistema mantém o avião equilibrado, em vôo horizontal.

Destroços do Boeing foram encontrados a 1 quilômetro de distância do local onde foi localizada a fuselagem do avião, na reserva indígena de Capoto Jarinã, no Alto Xingu - região de difícil acesso, de mata densa -, em Mato Grosso, na divisa com o Pará. O fato de os fragmentos estarem tão longe do local do acidente levou a especulações de que o avião perdeu partes durante a descida descontrolada. 'Não há motivo aparente para supor que o aparelho tenha se desmanchado no ar', disse ao Estado Newton Soler Saintive, engenheiro da aeronáutica, especialista em aerodinâmica. 'Mas só o impacto da queda poderia determinar esse efeito.'

Há outros indícios que comprovam que o avião teria caído na vertical ou, ao menos, em ângulo agudo. 'O 737 não arrastou árvores da densa floresta amazônica durante a queda', disse Pereira. O avião da Gol voava a 821 quilômetros por hora, quase na mesma velocidade do outro jato. O Boeing, na hora do acidente, estava a 17 mil pés (11.212 metros de altitude). Se estivesse na rota original, o Legacy trafegaria a 16 mil pés (10.909 metros).

O avião da Gol não explodiu no ar. Isso porque o piloto desligou os motores durante a queda para evitar um incêndio. 'O recurso é muito comum numa situação de emergência, pois pode haver vazamento de combustível. O Boeing também não explodiu ao bater no chão. A fuselagem foi encontrada no meio da mata, de ponta-cabeça, com o trem de pouso virado para cima, reforçando a tese da queda na vertical.