Título: Campanha deve girar em torno da ética
Autor: Carlos Marchi, Vanice Cioccari
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Especial, p. H3

Geraldo Alckmin (PSDB) vai continuar desfraldando a questão ética no segundo turno, mas o seu principal objetivo será quebrar a hegemonia do adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no eleitorado de baixa renda e apresentar-se como opção real para essas faixas. Já Lula ainda não tem uma estratégia discutida: 'Nossa estratégia é ganhar', disse ontem o coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia.

Além de repisar a questão ética - com uma agressividade que dependerá dos desdobramentos do escândalo do dossiê Vedoin e das reações do adversário -, Alckmin procurará mostrar ao eleitorado mais pobre que seu programa de governo e sua capacidade gerencial são capazes de melhorar a vida dessas pessoas. Para seus estrategistas, não dá para continuar batendo apenas na tecla ética, porque agora Alckmin precisará tirar votos de Lula para vencer e a questão ética não sensibiliza o eleitorado de renda e escolaridade baixas.

Ontem à noite, em meio às emoções da apuração dos votos, os principais dirigentes de campanha e assessores de Lula disseram que nos últimos dias não pararam para discutir uma estratégia aprofundada para a campanha do segundo turno, por duas razões: a primeira é que a crise do dossiê Vedoin não deixou muito tempo para discussões estratégicas de segundo turno; a segunda é que os lulistas contavam ganhar no primeiro turno.

Mas eles adiantaram que a principal arma de Lula será continuar fazendo a comparação das realizações de seu governo com as da gestão Fernando Henrique Cardoso. A idéia dos petistas é continuar provocando comparações do atual governo com o governo passado, que, segundo ele, produziu bons resultados na campanha do primeiro turno.

ALIADOS LIVRES

No segundo turno, o PSDB mobilizará importantes lideranças aliadas que se elegeram no primeiro turno com votações consagradoras, como José Serra (SP), Aécio Neves (MG), Teotônio Vilela Filho (AL), André Puccinelli (PMDB-MS), Marconi Perillo (GO) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), os quatro primeiros governadores e os dois últimos senadores eleitos com grandes votações. Jarbas e Puccinelli são do PMDB, mas estiveram incondicionalmente vinculados à campanha de Alckmin. Todos eles serão convocados para percorrer o País com Alckmin.

Um outro estilo será aplicado em Estados onde aliados de Alckmin foram para o segundo turno. Ele se engajará firmemente na campanha de Yeda Crusius, que é do PSDB e surpreendentemente conseguiu ir para o segundo turno com Olívio Dutra (PT). Lá, a chegada de Olívio em segundo lugar facilitou as coisas para Alckmin, que não terá de pedir votos contra o governador Germano Rigotto (PMDB).

Outro Estado onde ele fará campanha forte é em Pernambuco - o governador Mendonça Filho (PFL), sucessor de Jarbas Vasconcelos, foi para o segundo turno com Eduardo Campos (PSB), aliado de Lula. Por duas razões as polarizações naturais dos Estados onde vai haver segundo turno vão ajudar a campanha presidencial de Alckmin, diz o coordenador de seu programa de governo, João Carlos Meirelles. Por um lado, o PT não terá nenhum candidato forte no segundo turno dos Estados mais expressivos; por outro, em todos os Estados os candidatos tenderão a se dividir: se um ficar com Lula, o outro penderá para Alckmin e vice-versa; desta forma, Alckmin, que no primeiro turno não teve apoios firmes em muitos Estados, agora terá em todos onde houver segundo turno para governador.

ALTERNATIVA REAL

Mas os tucanos acreditam muito na contraposição de uma alternativa real a Lula que, segundo eles, tem biografia, programa e realizações para mostrar. 'Daqui para a frente será um embate concentrado em dois candidatos, sem nenhuma dispersão', afirma Meirelles, lembrando que Lula terá a desvantagem de não ter cumprido o favoritismo, que tanto alardeou, de vencer no primeiro turno.

O PSDB definiu mais rápido que o PT a busca de apoios em outros partidos. Na primeira hora depois das apurações Alckmin procurará Cristovam Buarque (PDT), que fez uma campanha muito próxima do tucano. Nas hostes petistas, os estrategistas já pensam em jogar Lula de corpo e alma nas campanhas de Eduardo Campos (PSB), em Pernambuco, e de Olívio Dutra (PT), no Rio Grande do Sul.

O presidente também convocará Jaques Wagner, que se elegeu governador da Bahia no primeiro turno e ascendeu à primeira grandeza do universo petista com a vitória que desbancou a hegemonia do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) no Estado.

O vice-governador eleito de São Paulo, Alberto Goldman, disse que o PSDB vai se engajar completamente na campanha de Alckmin no segundo turno. Ele acredita nas alianças com outros partidos, mas lembra que o eleitor 'é independente'. Para ele, o que vai funcionar na eleição é a contraposição de uma 'figura nova' (Alckmin) a uma 'figura velha' (Lula).