Título: Fracasso leva partido a acerto de contas interno
Autor: Vera Rosa, Tânia Monteiro, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Especial, p. H4

O fracasso da estratégia para reeleger no primeiro turno o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu uma crise sem precedentes no PT, que, destroçado, iniciará um processo de acerto de contas interno.

¿Se antes a tese da refundação do PT era uma alternativa, agora é uma necessidade¿, argumentou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. O ministro disse que é preciso agir rápido para reerguer o PT e evitar que a sigla seja destruída. ¿O partido terá de discutir a leveza com que tratou a questão da ética pública nos últimos anos e mudar o seu estilo de direção. Não pode mais ser um apêndice do Palácio do Planalto.¿

Os últimos escândalos envolvendo petistas - que tentaram comprar um dossiê na tentativa de associar o governador eleito, José Serra (PSDB), com a máfia das ambulâncias - assanharam as facções do PT, que falam sem cerimônia em antecipar a escolha da nova cúpula partidária. A última eleição ocorreu há apenas um ano.

Em tese, o mandato do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), vai até 2008, mas a sua situação se agravou ontem. Apesar de ter sido defenestrado da coordenação da campanha de Lula após a Polícia Federal descobrir a trama do dossiê Vedoin, Berzoini assegura que nada tem a ver com o episódio e diz que não sairá da presidência do PT. Muitos acham, porém, que não haverá saída.

DEMÔNIOS

¿Passada a eleição, os demônios do PT se soltam. Então, precisamos ter alguém credenciado para segurar os demônios, senão qualquer coisa vira disputa interna¿, comparou um dirigente do partido.

Dizendo-se revoltados com tantos desvios éticos, petistas graúdos já pregam uma cúpula menos paulista. ¿Não tenho preconceito nenhum contra o eixo Sul-Sudeste, mas acho que existe uma visão paulista demais no PT¿, comentou o governador do Acre, Jorge Viana. ¿Há petistas no partido que nem parecem petistas. Deveriam se filiar logo ao PFL porque ficaria mais natural.¿

A guerra no PT promete ser cada vez mais ruidosa daqui para frente. Uma das arenas do embate será o Congresso do partido, previsto para o segundo semestre de 2007.

Para o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, o problema da legenda não é geográfico, mas político. ¿Há, dentro do PT, um grupo de dirigentes que não aprendeu nada com a crise de 2005. Esse grupo não é paulista. É um grupo político, com ramificações em todo o País¿, observou ele, em artigo publicado no site do PT intitulado Operação Tabajara, o retorno.

Na noite de ontem, Pomar já traçava rumos para a campanha no segundo turno. Para ele, o partido deve insistir na polarização com o PSDB porque ¿existe no eleitorado brasileiro uma maioria que se oporá à volta do governo de Fernando Henrique Cardoso¿ e buscar o eleitorado de Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT), ainda que os dois não queiram apoiar Lula.