Título: Lula culpa PT por segundo turno
Autor: Vera Rosa, Tânia Monteiro, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Especial, p. H4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou ontem à noite o PT por não ter vencido no primeiro turno a eleição que o reconduziria ao Palácio do Planalto. Em reunião com a coordenação política do governo, no Palácio da Alvorada, Lula lamentou a avalanche de erros cometidos pelo PT durante a campanha contra o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, e disse que tentará intervir na crise que se abateu sobre o partido.

¿Estou com a alma machucada e temos de resolver isso para iniciar a campanha do segundo turno. Não é possível que a gente continue convivendo com tanta crise sem fazer nada¿, afirmou o presidente. ¿Agora, é preciso tocar a vida para a frente¿, completou, convocando novo encontro para hoje, às 9 horas, no Planalto.

Lula chamou os ministros para acompanhar com ele a apuração dos votos assim que foram divulgados os preocupantes resultados da boca-de-urna. ¿Lula foi alvo de maledicências na fase final da campanha¿, afirmou o vice-presidente José Alencar, numa referência ao escândalo do dossiê Vedoin, uma papelada que petistas tentaram comprar para atingir o candidato do PSDB, José Serra, eleito ontem governador.

Participaram da reunião com Lula, além de Alencar, os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Relações Institucionais), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Guido Mantega (Fazenda). ¿Essa questão do dossiê evidentemente atrapalhou a campanha¿, admitiu Mantega. ¿As fotos do dinheiro foram supervalorizadas pela imprensa e isso causou uma turbulência inesperada.¿

DEBATE

Para Alencar, Lula deveria ter ido ao debate da TV Globo, na quinta-feira. ¿Eu fui voto vencido¿, comentou. ¿Mas nós gostamos de nos encontrar com o povo brasileiro e por isso até é bom para o Brasil o segundo turno.¿ Marco Aurélio Garcia, coordenador da campanha, foi na mesma linha. ¿O eleitorado tem a sua sabedoria e talvez esteja querendo prorrogar o debate político, mas o fato é que esse dossiê nos trouxe um desgaste muito grande¿, argumentou.

Pela manhã, ao chegar para votar em São Bernardo do Campo, berço político do PT , Lula procurou demonstrar confiança na vitória. ¿Estamos confiantes em que o Brasil tem um destino traçado¿, afirmou Lula, ao sair da 70ª seção da Escola Estadual Dr. João Firmino Correia de Araújo. Vestido com uma jaqueta branca, indicando com os dedos o ¿L¿ de Lula, o presidente foi recebido com um misto de aplausos e vaias, mas a claque era maior.

¿Cadê os 10 milhões de empregos?¿, gritou um eleitor, numa referência a uma promessa não cumprida de campanha. Lula não deu ouvidos e prosseguiu: ¿O País tende a continuar crescendo e a vida do povo tende a continuar melhorando.¿ Logo cedo, o presidente fez um apelo aos eleitores para que pusessem o ¿sonho¿ nas urnas, permitindo a seu governo ¿consolidar¿, num novo mandato, as mudanças ¿de que o Brasil tanto precisa¿. Diante das câmeras, Lula recorreu a frases habitualmente usadas em eleições, mencionando a ¿maturidade¿ dos brasileiros e o ¿momento glorioso¿ para a democracia. Seus auxiliares, no entanto, admitiram o nervosismo no comitê da campanha.

O presidente chegou à pequena escola onde vota há duas décadas acompanhado da primeira-dama, Marisa, de Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo de São Paulo, de Eduardo Suplicy, que concorre ao Senado, e do ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Ficou ali por exatos 20 minutos. O clima era muito diferente do observado há quatro anos, quando foi recepcionado por uma multidão com aplausos e, ao sair, beijou a bandeira do Brasil.

BATE-BOCA

Alguns eleitores se irritaram com os detectores de metal instalados na entrada da escola, uma exigência da Presidência da República. Houve tumulto e empurra-empurra quando Lula entrou na seção, uma sala acanhada para o turbilhão de fotógrafos e cinegrafistas. Fiscais do PSDB e do PSB bateram boca com assessores do presidente e funcionários da campanha. Alegaram que a Lei Eleitoral proibia que os jornalistas usassem o crachá com a inscrição Campanha Lula, adornado pela estrela do PT. Para evitar mais discussão, os petistas cederam.