Título: José Dirceu é contra investigação interna
Autor: Expedito Filho, Wilson Tosta, Vanice Cioccari
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Especial, p. H5

Um dos protagonistas do escândalo do mensalão, o ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado federal José Dirceu (PT) defendeu ontem que a compra do dossiê Vedoin por petistas não seja investigada em comissão interna do partido, mas tratada 'politicamente' no congresso da legenda, marcado para 2007.

Com mandato cassado em 2005 como chefe do suposto esquema de compra de parlamentares pelo Executivo, o ex-parlamentar também assumiu a defesa do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que deixou a coordenação da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após ser envolvido no caso Vedoin e também pode perder o comando da agremiação. Dirceu defendeu ainda que o partido faça mudanças a partir dos resultados eleitorais de 2006.

'Partido político sempre tem que fazer avaliação, reavaliação, mudar. Nós temos no PT um congresso no ano que vem, no segundo semestre. Então, a partir desta eleição, vai ser feita uma avaliação, um balanço do PT, e o PT vai continuar mudando', disse ele ao Estado. As declarações seguem na contramão de outros setores petistas que identificaram na ação do chamado 'setor de inteligência' do PT para compra do material - frustrada pela Polícia Federal, que prendeu os envolvidos - a continuidade da atuação de petistas ligados aos mesmos dirigentes que protagonizaram os escândalos, entre eles o do mensalão. O clamor por uma ação mais enérgica cresceu no partido com as evidências de que o caso Vedoin prejudicou o desempenho eleitoral do presidente Lula.

Dirceu lembrou que Berzoini 'foi eleito numa eleição direta' e afirmou que 'é preciso avaliar a responsabilidade de cada um'. 'Acho que isso (o escândalo do dossiê Vedoin) é uma questão política, não uma questão de comissão interna', disse. 'O PT é um partido que tem demonstrado que tem raízes sociais e políticas maiores que suas crises, que seus problemas, que seus erros. Isso ficou claro no PED (Processo de Eleição Direta) no ano passado, quando 340 mil petistas foram votar. E ficou clara a capacidade de renovar suas direções. O PT vai saber reconhecer as mudanças necessárias a partir do quadro novo que vai se criar a partir do ano que vem.'

O ex-ministro deu entrevista de manhã, antes e depois de votar na 14ª seção da 258ª zona eleitoral, na Universidade Ibirapuera, em Moema, na capital paulista.Para votar, Dirceu montou uma espécie de 'operação discrição', talvez para evitar manifestações hostis. Sua assessoria avisou que o ex-ministro só votaria à tarde. Mas, antes do início da votação, amigos o esperavam. Um deles falava muito ao celular. Dirceu chegou às 8h18.