Título: Berzoini nega saída do cargo, apesar da pressão
Autor: Expedito Filho, Wilson Tosta, Vanice Cioccari
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Especial, p. H5

Ao votar no fim da tarde de ontem, no bairro do Brooklin, em São Paulo, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, foi obrigado a responder a provocação de um eleitor indignado com o escândalo da compra do dossiê . 'Está metendo muito a mão lá?', perguntou o eleitor, aparentando 50 anos, logo na chegada do presidente à zona de votação. 'Eu não sou o que você pensa', respondeu Berzoini, fechando a cara. Foi um susto e um sinal de como o petista, depois do escândalo da compra do dossiê contra os políticos tucanos, tornou-se um dos principais símbolos da desastrosa operação.

Depois do contratempo, ele acabou negando sua saída da presidência do partido agora, após o primeiro turno, como desejam ministros petistas próximos do presidente Lula. Mas na sua biografia persiste a imagem do dirigente partidário que comprometeu uma eleição presidencial, praticamente, vitoriosa no primeiro turno. É por isso que petistas graduados se articulam para removê-lo do comando do partido. Nas entrelinhas, Berzoini sinalizou que não haverá a mesma docilidade com que reagiu quando foi destituído da coordenação da campanha do presidente.

Ao ser indagado sobre uma eventual destituição, Berzoini afirmou que sequer admite discutir a questão. 'Eu não tive qualquer discussão sobre minha saída. O cargo de presidente do PT é eletivo. Não é de nomeação. Portanto, qualquer discussão tem que ser feita com a militância do PT', avisou.

Entre os petistas, a declaração soou como um alerta para os que pretendem operar sua saída do comando do PT. Ele saiu da coordenação da campanha de Lula à reeleição, função para qual foi nomeado pelo próprio presidente, sem reclamar, mas , na entrevista dada ontem, mostrou-se disposto a resistir politicamente a qualquer tentativa de desalojá-lo da direção.

Berzoini negou até que seu nome tenha sido incluído pelo presidente Lula, na semana passada, entre os 'aloprados', responsáveis pela operação de compra do dossiê . Peça fundamental na cadeia de comando dos operadores da bruxaria petista, Berzoini acabou reconhecendo que o escândalo 'gerou uma exposição negativa e acabou interferindo até no seu próprio desempenho como candidato a deputado federal. 'O dossiê é claro que gerou uma exposição negativa. Quando o presidente Lula falou em aloprado não se referiu à minha pessoa. Houve uma uma interpretação. Infelizmente, as versões são mais fortes do que os fatos', minimizou.

O presidente do PT, contudo, não soube precisar o tamanho do estrago feito na campanha de Lula com a divulgação das fotografias do R$ 1,75 milhão apreendido. Berzoini preferiu insistir na tecla de que a publicação da foto 'foi algo de irregular'.