Título: Dossiê Vedoin foi decisivo para queda
Autor: Expedito Filho, Wilson Tosta, Vanice Cioccari
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Especial, p. H5

No meio do caminho da reeleição, havia um dossiê. O escândalo envolvendo a tentativa de compra, por petistas, de documentos e de uma entrevista do empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam e chefe da máfia das ambulâncias superfaturadas, supostamente comprometedores para os tucanos, atingiu a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição e acabou blindando o PSDB. A avaliação é do próprio comando de campanha do PT, que ontem avaliava que os prejuízos sofridos por Lula nos últimos dias foram enormes.

'O que dá para se lavrar com clareza é que houve um prejuízo. Essa eleição estava ganha, não fosse esse incidente', avaliou um dos auxiliares mais próximos do presidente, o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Em contraste com o discurso de Lula ao votar, de confiança na vitória no primeiro turno, ele admitiu que a 'crise final do dossiê' pôs em risco a reeleição. Na sexta-feira, houve o vazamento das fotos do dinheiro que supostamente seria usado por petistas para comprar o material. O PT recorreu à Justiça, mas foi frustrada a tentativa de impedir a divulgação das imagens.

Há duas semanas, a campanha era dada como liquidada. Lula tinha folga de cerca de 5 pontos à frente da soma dos adversários. Geraldo Alckmin (PSDB) parecia estagnado. Entre os dias 14 e 15, a Polícia Federal deteve Vedoin, o ex-policial federal Gedimar Passos e o petista Valdebran Padilha. Na operação, foram apreendidos R$ 1,75 milhão. Passos e Padilha eram ligados ao chamado 'grupo de inteligência' da campanha do PT, que fazia o jogo pesado contra adversários.

A crise cresceu quando Gedimar acusou o segurança da Presidência Freud Godoy, antigo seguidor do presidente, de ter dado a ordem para o pagamento. Freud perdeu o cargo, assim como outros suspeitos: o ex-diretor do Banco do Brasil, Expedito Veloso; o ex-secretário do Ministério do Trabalho, Osvaldo Bargas; o ex-coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista, Hamilton Lacerda; e Jorge Lorenzetti, churrasqueiro de Lula, ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina e suposto mentor da operação.

Também o presidente do PT, Ricardo Berzoini, foi atingido. Ele foi demitido do cargo de coordenador de campanha por Lula e ainda teve de ouvi-lo, publicamente, chamar os responsáveis pelo caso de 'aloprados'. A demissão de Berzoini foi uma tentativa de estancar a sangria de votos que já se anunciava em pesquisas internas. Agora, sua permanência como presidente do PT está ameaçada. Ministros petistas já começam a articular a sua substituição. 'O dossiê, é claro, gerou uma exposição negativa', admitiu Berzoini, que nega que possa deixar a presidência do PT.

Identificado como criador do grupo de inteligência - dissolvido pelo novo coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia -, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, pediu solução política para a situação dos petistas envolvidos. Ele não quer apuração interna para o caso.