Título: A discreta volta dos mensaleiros
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Especial, p. H10

Três protagonistas da crise do mensalão, que feriu por dentro a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado assumiram a discrição como palavra de ordem durante a votação de ontem. Atingidos pelas denúncias, o ex-presidente do PL Valdemar Costa Netto, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-líder do governo na Câmara Professor Luizinho, tentaram votar sem chamar a atenção. Já o autor da denúncia que quase derrubou o governo, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB), assumiu ar vitorioso no Rio, declarando-se mais popular que antes do escândalo.

Um dos acusados de receber dinheiro ilegal, o candidato a deputado federal Costa Neto, votou rapidamente em Mogi das Cruzes, sem falar com a imprensa e fazendo um V de vitória meio sem graça. Cercado de jornalistas e dirigentes do PL, Costa Neto, conhecido como Boy, repetia o tempo todo que não se pronunciaria por causa da legislação eleitoral, embora não haja proibição nesse sentido.

'Desculpem, não posso falar, porque senão a Promotoria Eleitoral pode entender como propaganda', repetia.

Primeiro presidente da Câmara no governo petista, João Paulo minimizou os efeitos do caso. 'Isso já foi', disse, depois de votar em Osasco, às 12h30. João Paulo, que teve o nome revelado como um dos envolvidos com o valerioduto (recebeu R$ 50 mil), ficou poucos minutos no local de votação. Não quis muita conversa com os jornalistas.

Outro que tentou votar sem ser muito notado foi Professor Luizinho, que, para despistar os repórteres, se apresentou cedo em sua seção eleitoral, em Santo André, no ABC, e depois se recolheu em seu comitê. Mais tarde, deu entrevista, para mais um vez negar envolvimento com o mensalão - foi acusado de receber R$ 20 mil. 'Mensalão já está superado. Foi perseguição', declarou.

Em contraste, Jefferson, na seção eleitoral do bairro do Flamengo, na zona sul do Rio, onde vota, parecia convencido de que tem a admiração da sociedade. 'Sou mais bem tratado pelo povo do que era antes do mensalão', afirmou, aparentando orgulho. Em 2006, Jefferson , que reassumiu a presidência do PTB, apóia as candidaturas da filha, Cristiane Brasil, a deputada federal, e do genro, Marcus Vinicius, a deputado estadual. Ele aproveitou a imprensa para voltar a atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

'Imagina quando o delegado contar o que sabe e todo mundo descobrir de quem era a conta, quem sacou o dinheiro e quem deu o dinheiro para o PT?', afirmou, numa referência à tentativa de compra do dossiê Vedoin por petistas. Disse ter votado em Heloísa Helena (PSOL).