Título: Com vaga garantida, Collor volta à política e oposição avança no Senado
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2006, Especial, p. H11

A eleição para as 27 vagas disponíveis para o Senado mostra o crescimento dos partidos de oposição dentro da Casa e traz de volta para o cenário político o ex-presidente Fernando Collor (PRTB), eleito por Alagoas e obtendo seu primeiro mandato desde o impeachment, em 1992. Pela totalização nacional de votos, PFL e PSDB foram os partidos que mais conquistaram cadeiras no Senado, o que trará mais dificuldades para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguir aprovar propostas de interesse do governo, caso se reeleja para um novo mandato. Além disso, as duas legendas terão, juntas, possivelmente 33 senadores, o que assegura, por exemplo, as assinaturas necessárias para pedir a abertura de qualquer comissão parlamentar de inquérito na Casa (é preciso ter apenas 27 assinaturas).

Segundo a totalização parcial dos votos, o PFL elegerá seis senadores e o PSDB, outros cinco. Somando esse total à bancada que os dois partidos já possuem no Senado, poderão chegar até a 33 parlamentares na Casa. Esse número dependerá só da conclusão de disputas para o segundo turno do governo de alguns Estados envolvendo candidatos com mandato no Senado, como Roseana Sarney (PFL), no Maranhão, Osmar Dias (PDT), no Paraná, e José Maranhão (PMDB), na Paraíba.

A eleição para o Senado também marca um desempenho razoável do PMDB, que ganhará pelo menos mais quatro cadeiras. Pode ficar ainda com outra, se Roseana se eleger governadora, já que seu suplente, Mauro Fecury, é do PMDB. Mas o resultado aponta o mau desempenho da ala governista do partido, ligada ao presidente Lula, que poderia ajudá-lo dentro do Senado.

Na Paraíba, Ney Suassuna, líder da bancada do PMDB, não suportou o peso político das acusações de envolvimento com a máfia dos sanguessugas e não se reelegeu, perdendo para o tucano Cícero de Lucena. No Pará, Luiz Otávio (PMDB), governista que presidia a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), terminou longe, perdendo para Mário Couto, do PSDB.

Gilberto Mestrinho, do Amazonas, é outro peemedebista da ala ligada a Lula que perdeu o mandato. A perda não é tão dura porque sua vaga será ocupada por um ex-ministro de Lula, Alfredo Nascimento (PL), que foi ministro dos Transportes. Além disso, o PMDB pode comemorar a reeleição do senador José Sarney (AP), que resistiu à surpreendente performance de Cristina Almeida (PSB), e renovou seu mandato.

Algumas disputas foram intensas. No Rio de Janeiro, uma briga de deputados acabou tendo o lado mais conservador como vitorioso. As projeções indicavam a vitória de Francisco Dornelles (PP) contra Jandira Feghali (PC do B). A deputada liderava a disputa até a reta final da campanha, mas abriu uma polêmica com a Igreja Católica no Rio, por conta da discussão sobre o aborto.

Em Minas, outra polêmica. O ex-governador Newton Cardoso (PMDB) decidiu se aliar ao PT e apoiar Lula, deixando de lado o passado histórico de opositor dos petistas. Acabou sendo atropelado pelo pefelista Eliseu Rezende.

Em São Paulo, as projeções indicavam a manutenção do mandato do senador Eduardo Suplicy (PT), mas com um excelente desempenho de Guilherme Afif Domingos (PFL). Colado nas campanhas de José Serra (PSDB) ao governo e à de Geraldo Alckmin (PSDB) para presidente, Afif acabou tendo uma votação muito alta e chegou a liderar a disputa até a abertura de 30% das urnas de São Paulo.

Dois terços da Casa, ou 54 senadores, só precisarão renovar mandatos em 2010.