Título: Presidente fecha acordo para contar com maioria do PMDB no 2º mandato
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2006, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente fechou ontem acordo para construir um governo de coalizão com o PMDB. Ao fim de uma reunião de mais de duas horas com o presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), Lula lhe entregou uma proposta com sete pontos para garantir a parceria. Com essa carta de intenções nas mãos - batizada de 'agenda mínima da coalizão' -, Temer saiu do Planalto prevendo que o acerto será oficialmente aprovado pelo partido na semana que vem. A Executiva Nacional será convocada para examinar a proposta na terça-feira e o presidente do PMDB acredita que logo em seguida, na quinta-feira, a maioria dos 150 membros do conselho político do partido vai referendá-la.

À noite, Lula classificou de 'histórica' a reunião. 'Foi histórica porque todo mundo sabe que nós queríamos fazer uma política de aliança mais forte com o PMDB desde 2002 e que problemas internos no PMDB não permitiram', afirmou ele, depois de participar da entrega do Prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar, em um hotel de Brasília. 'A coalizão que estamos construindo vai permitir que a gente chegue a um bom senso e que o Brasil possa ganhar com isso.'

No encontro, Lula propôs a aliança em torno de um conjunto de propostas, tal como defendiam os peemedebistas das alas independente e de oposição ao governo, inclusive o próprio Temer. 'Mas eu não gostaria mais de fazer essa distinção entre governistas e oposicionistas', observou o presidente do PMDB. 'Hoje sinto a maioria significativa do partido querendo colaborar com o governo e acho que o partido pode caminhar para uma coalizão.'

Do encontro com Lula no Planalto, além de Temer, participaram o ex-governador Orestes Quércia (SP) e os deputados Henrique Eduardo Alves (RN), Tadeu Filippelli (DF) e Moreira Franco (RJ), além do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. Segundo Quércia, mesmo com a coalizão montada até meados de dezembro, Lula deixou claro que as mudanças no ministério só sairão no ano que vem, depois da eleição dos presidentes da Câmara e Senado.

A 'agenda mínima' (veja quadro abaixo) começa pelas reformas política e tributária, passando por uma política econômica comprometida com o 'crescimento mínimo de 5%, nos próximos quatro anos', e termina com a proposta de criar um 'conselho político, composto por partidos da coalizão, para acompanhamento das ações de governo'.

Todas as propostas agradaram aos peemedebistas. 'Aqui estão contempladas as várias teses do PMDB', resumiu Temer. Não por acaso: o documento foi montado a partir de um esboço redigido pelo ex-deputado e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, que hoje tem a preferência de setores do partido para suceder Temer na presidência do PMDB, com a simpatia do Planalto.

'Agora eu estou confiante de que vamos ter uma mudança de qualidade na relação política com o PMDB, porque essa relação é institucional', disse Lula na conversa, segundo um dos participantes do encontro. De acordo com Temer, nada teria sido discutido na reunião sobre a partilha de ministérios. Ele disse que o partido não aceita ser classificado de fisiológico, mas admitiu que a concretização da coalizão deverá resultar em cargos e ministérios para o PMDB.

Advertido por Temer da resistência manifestada na véspera por um grupo de seis senadores do partido, o presidente disse que não esperava mesmo ter a unanimidade do PMDB, porque isso não existe nem em seu próprio PT. 'O importante é que agora teremos uma posição majoritária do partido', avaliou. Segundo Tarso, no entanto, Lula disse que vai procurar os senadores 'não alinhados' com o governo, como Jarbas Vasconcelos (PE).

PRÉVIA

Antes do encontro para a apresentação da 'agenda mínima da coalizão', Lula e Temer tiveram uma reunião prévia, para 'aparar as arestas pessoais'. É que os dois não se falavam havia mais de um ano - desde que, em meio às negociações da reforma ministerial, Lula se deixou fotografar a seu lado e, em seguida, acabou recebendo um manifesto dos governadores do partido defendendo a independência e a demissão dos ministros peemedebistas.

A conversa foi pedida pelo próprio Temer. Ele argumentou que queria pôr fim às intrigas envolvendo seu nome e quebrar o clima de desconfiança, mostrando boa vontade e disposição de ajudar a construir a coalizão desejada pela maioria do partido. 'Não falamos do passado. Tratamos das coisas do futuro', resumiu ao fim do encontro, que classificou de 'positivo e altamente produtivo'.