Título: Na CPI, Expedito acusa Serra de receber da máfia dos sanguessugas
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2006, Nacional, p. A8

Em depoimento ontem à CPI dos Sanguessugas, o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso afirmou que entre os documentos prometidos ao PT pela família Vedoin havia 15 cheques e 20 transferências bancárias que teriam sido usados para o pagamento de dívidas da campanha à Presidência da República de José Serra, em 2002.

Segundo Expedito, Luiz Antonio Vedoin lhe contou que os cheques foram entregues ao empresário Abel Pereira, ligado ao atual prefeito de Piracicaba e ex-ministro Barjas Negri (PSDB). As transferências bancárias também teriam sido feitas para empresas indicadas por Abel. Os 15 cheques totalizariam perto de R$ 600 mil e os comprovantes de transferências bancárias somariam outros R$ 300 mil. 'Havia fotos e foi mostrado um DVD que retratava entrega de ambulâncias e ônibus em Cuiabá. A festa teria sido patrocinada pela Planam', afirmou Expedito, referindo-se à empresa dos Vedoin que atuava como pivô das fraudes.

No depoimento, o ex-diretor do BB disse que Vedoin contou que duas transferências bancárias foram feitas para as empresas DataMicro, de Governador Valadares, e Império Representações Turísticas, de Ipatinga, a pedido de Abel. 'Eram palavras de Vedoin: cheques e transferências bancárias foram para pagamento de restos de campanha do Serra', disse Expedito, referindo-se a pendências da campanha como 'restos'.

O sub-relator Carlos Sampaio (PSDB-SP) reagiu à acusação contra Serra. 'Se o senhor tinha essa informação, por que não a revelou em seu depoimento na Polícia Federal? O senhor esqueceu isso na polícia e lembrou hoje?', perguntou o tucano. Para o deputado, as declarações de Expedito fazem parte de estratégia para desviar o foco das investigações sobre a compra do dossiê contra tucanos. À PF, em 22 de setembro, Expedito descreveu os mesmos cheques, mas dizendo que se destinavam apenas a Abel.

Durante as cerca de três horas do depoimento de ontem, o petista repetiu que sua participação no episódio se restringiu a verificar a autenticidade dos documentos apresentados pela família Vedoin que apontariam o envolvimento de tucanos com a máfia dos sanguessugas.

Ele disse desconhecer que a negociação com os Vedoin envolvia dinheiro. Expedito participou de quatro reuniões com Luiz Antonio, Darci Vedoin e dois emissários petistas que acabaram presos com R$ 1,75 milhão em dinheiro - Valdebran Padilha e Gedimar Passos. 'Minha participação foi técnica. Eu apenas ouvi o que eles diziam. Não poderia impedir que falassem de dinheiro', observou no depoimento à CPI.

Expedito disse que, nas conversas, ouviu os Vedoin pedirem R$ 20 milhões, depois R$ 10 milhões e, por fim, R$ 3 milhões. Mas, segundo sua versão, a ajuda combinada teria ficado restrita ao apoio jurídico à família. Segundo ele, os documentos também serviriam para divulgar que o esquema dos sanguessugas começou na gestão Fernando Henrique Cardoso e não no atual governo.

Pela versão do ex-diretor, os Vedoin também estariam negociando documentos com os tucanos por meio de Abel Pereira.

BARGAS

O ex-secretário do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas também depôs ontem na CPI e disse que o dossiê contra os tucanos foi uma 'arapuca' organizada pelos próprios 'adversários'. Ele afirmou que sua participação limitou-se a acompanhar a entrevista da família Vedoin à revista IstoÉ, na qual fizeram acusações a Serra e a Barjas Negri, e que se surpreendeu com o dinheiro apreendido.

'Fiquei muito abalado. Tínhamos caído em uma armação, em uma arapuca. E quem organizou a arapuca foram os adversários', sustentou Bargas.