Título: Jarbas Passarinho critica processo 'décadas depois'
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2006, Nacional, p. A13

Ex-senador e ex-ministro do período militar, Jarbas Passarinho criticou a abertura de processo contra militares 'décadas depois da Lei da Anistia'. Ele qualificou de 'ódio ideológico' o sentimento que leva ex-presos políticos e seus familiares a recorrerem à Justiça.

Passarinho era um dos presentes no evento de anteontem em defesa do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi que é processado na 23ª Vara Cível de São Paulo sob acusação de comandar ações de tortura. 'Ousam tentar manchar a reputação de um soldado exemplar para servir ao ódio ideológico', disse Passarinho, ao discursar no encontro.

'Seus acusadores, esses sim, são militantes de um partido comunista que tem ainda hoje em Stalin seu herói. Um tirano que por quase 30 anos matou ou mandou assassinar milhões de pessoas de seu próprio povo por terem ousado discordar de sua figura sinistra.'

'Eles mentem, difamando. A história, ao revés, prova que eles, sim, são violadores cruéis dos direitos humanos', prosseguiu o ex-ministro.

Já no começo do seu discurso, Passarinho, também coronel, declarou ter recebido com 'honra excelsa' a missão de 'saudar um patriota, que a mentira, a difamação e a calúnia, arma dos covardes, intenta retratar como um réprobo'.

A ACUSAÇÃO

Ustra está sendo processado pelos ex-presos políticos Maria Amélia de Almeida Teles, César Augusto Teles - e seus filhos Janaína e Edson Luiz de Almeida Teles -, além de Criméia Schmidt de Almeida, irmã de Maria Amélia. Eles o acusam de comandar a tortura no período em que estiveram presos no DOI-Codi, em 1972.

À época integrantes do PC do B, Maria Amélia e César foram presos e levados para o DOI-Codi, em São Paulo. Na ocasião, estavam com eles seus dois filhos menores, Janaína, de 5 anos, e Edson, de 4 anos, além de Criméia, que tentou se passar por babá. De acordo com os Teles, o coronel comandou a tortura e manteve as crianças em cárcere privado.

RESPOSTA

Ustra nega as acusações. O ex-comandante do DOI-Codi diz que, como as crianças não poderiam ficar sozinhas em casa durante a prisão dos pais, permitiu que uma policial militar fizesse companhia, enquanto os tios não chegavam de Minas para buscá-las. No período, alega ter permitido visitas diárias das crianças aos pais no DOI-Codi.