Título: Darci também acusa aliado de Barjas
Autor: Catarine Piccioni
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2006, Nacional, p. A7

O empresário Darci Vedoin voltou a dizer ontem, em depoimento à Justiça Federal de Mato Grosso, que o empresário Abel Pereira intermediou recursos provenientes de emendas parlamentares para favorecer a máfia dos sanguessugas na época em que o prefeito de Piracicaba (SP), Barjas Negri (PSDB), era ministro da Saúde.

Darci e seu filho, Luiz Antônio Trevisan Vedoin, já haviam dito em entrevista que a atuação de Abel junto ao ministério teria garantido a liberação de R$ 3,5 milhões destinados à venda superfaturada de ambulâncias mediante pagamento de 6,5% por verba liberada.

Em depoimento à Justiça na semana passada, Luiz Antônio citou 41 prefeituras que teriam recebido recursos via Abel, empresário do ramo de construção civil de Piracicaba. A lista teria sido indicada pelos Vedoin a Abel, cujo contato direto seria o próprio Barjas.

Também em juízo, o ex-sócio da Planam (principal empresa do esquema sanguessuga) Ronildo Medeiros declarou nesta semana que Abel esteve em Cuiabá (MT) na segunda quinzena de agosto para cobrar suposta dívida de propina decorrente da sua atuação no esquema dos sanguessugas.

A Justiça tem cópia de nove cheques cuja soma é de R$ 421,2 mil. Três deles (R$ 30 mil cada um) foram emitidos em janeiro de 2003; outros quatro (R$ 199 mil) em fevereiro; e mais dois, no valor de R$ 132,23 mil, em dezembro de 2003. Os cheques foram entregues a Abel como pagamento de propina, segundo Luiz Antônio, que suspendeu o pagamento antes de serem descontados.

ACUSAÇÃO

Assim como o filho, Darci Vedoin também disse que esteve no gabinete do senador tucano Antero Paes de Barros para tratar de emendas ao Orçamento da União. As emendas também beneficiariam a Planam. Vedoin teria acertado o pagamento de 10% sobre o valor da 'cota-parte' de Paes de Barros, candidato derrotado ao governo de Mato Grosso, na emenda de bancada que contemplou quatro municípios do Estado com ambulâncias adquiridas da Planam.

Pela primeira vez em juízo, os Vedoin sustentaram que o parlamentar pediu que a propina (R$ 40 mil) fosse repassada diretamente ao deputado Lino Rossi, ex-PSDB, hoje no PP.

NEGATIVA

A Polícia Federal vai ouvir Abel na segunda-feira, em Cuiabá. Ele é investigado no inquérito que apura a tentativa de compra do dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), e em outro específico sobre a participação dele na máfia dos sanguessugas.

Abel negou, por meio de seu advogado, que tenha recebido propina do esquema sanguessuga. 'Isso não tem a menor procedência', reagiu o criminalista Eduardo Silveira Mello Rodrigues.

O advogado disse que seu cliente conhece Darci Vedoin, 'mas nunca houve qualquer negócio espúrio da parte de Abel', assinalou Mello Rodrigues.

Quem apresentou os Vedoin a Abel foi Valdizete Martins, ex-prefeito do município de Jaciara (MT). 'Abel jamais intermediou contato dos Vedoin com Barjas Negri', afirmou o advogado.