Título: Consumo das classes D/E cresce 11% com Lula
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/11/2006, Economia, p. B7

As famílias de baixa renda, das classes D e E, com rendimento mensal de até quatro salários mínimos (R$ 1,4 mil pelos valores de hoje), compraram 11% mais alimentos, bebidas e produtos de higiene pessoal e limpeza entre janeiro de 2003 e agosto deste ano, primeiro mandato do governo Lula.

A pesquisa feita pelo Latin Panel mostra que, além de ir mais às compras, esses consumidores aumentaram a variedade de produtos colocados no carrinho de supermercado e ampliaram em 35% seu gasto médio.

Apenas no período de 2005 a 2006, 2,15 milhões de famílias subiram na pirâmide do consumo e migraram das classes D/E para a C. No ano passado, 44% das famílias pesquisadas estavam na faixa D/E de renda. Em 2006, este número caiu para 39%, revela a pesquisa.De acordo com a diretora comercial da Latin Panel, Margareth Utimura, esses brasileiros elevaram sua renda e posse de bens e ascenderam para a classe C, que passou de 33% para 37% da população do País.

O crescimento do consumo dos mais pobres foi bem maior que o de outras classes sociais. O porcentual de domicílios compradores em três anos cresceu 15% nas classes D e E, 10% na classe C e 7% nas classes A e B, revela o estudo, batizado de 'O Consumo na Era Lula'. Para fazer a pesquisa, o Latin Panel se baseou na cesta semanal de compras de 8,2 mil famílias nos últimos quatro anos. A amostra corresponde a 82% da população domiciliar no País.

O volume consumido de bebidas, alimentos, produtos de limpeza e higiene subiu 5% no total. Mas chama a atenção o crescimento do consumo da classe D/E, de 11%, ante o da classe C, que foi de 8%, e da A/B, de 5%.

Segundo a diretora da unidade brasileira da Latin Panel, Ana Claudis Fioratti, houve uma 'sofisticação' na cesta de consumo na baixa renda. 'Ela teve acesso a uma série de bens que não consumia antes, como salgadinhos, massas instantâneas, suco em pó e pós-xampus, entre outros.'

Esse reforço do consumo é explicado pelo programa Bolsa Família, que contempla 11 milhões de famílias,pelo crescimento de 84,3% do crédito consignado, pelo aumento do emprego e pela queda nos preços dos alimentos. Mas, em contrapartida, o endividamento cresceu.

O gasto médio nos domicílios e o volume de bens não duráveis adquiridos, que apresentavam crescimento desde 2002, também estancaram este ano. De janeiro a agosto, há uma queda de 1% no consumo em relação a 2005. 'Em 2006, talvez por causa do maior endividamento das pessoas, temos pela primeira vez, desde 2002, uma estabilidade', diz Fioratti.

Ela observa também que desde o ano passado há um aumento do consumo de produtos de preços baixos na camada de menor poder aquisitivo, em detrimento do consumo dos produtos de preço médio.'Houve uma oferta mais adequada de produtos a essa faixa de renda, que está bastante endividada, mas se esforça para manter o consumo.' Entre o fim de 2002 e agosto de 2006, segundo o LatinPanel, 48% das marcas líderes no segmento de alimentos perderam participação no total de consumo das classes D/E.

A reforma da casa é o primeiro sonho de consumo das classes D/E, com 29% das respostas, seguida pelas compras (23%), pagamento de dívidas (15%), poupança (11%) e construção (10%). Entre os que iriam às compras, se tivessem maior renda, 64% comprariam móveis e 33% eletroeletrônicos. Mas chama a atenção que 29% comprariam mais comida.